Lourenço Gouveia foi atropelado no interior de São Paulo e não tinha documentos de identificação. Famílias de três cidades identificaram o morto.
Um homem que morreu atropelado foi identificado por três famílias e teve não um, nem dois, mas três velórios, em três cidades diferentes.
Tudo aconteceu na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Na noite de 20 de junho, na rodovia BR-153, conhecida como Transbrasiliana, no noroeste paulista, um homem branco, aparentando 65 anos, com cerca de 1,60 de altura morreu atropelado. Ele não trazia nenhum documento. Foi aí que começou toda a confusão.
O acidente aconteceu na altura do quilômetro 41, perto do município de Onda Verde. De lá, o corpo foi levado ao Instituto Médico Legal de São José do Rio Preto.
Depois de três dias, uma família de Icém, a 73 quilômetros de distância, soube do acidente e foi até o IML. Eles queriam saber se o corpo era de Antônio Cardoso, que saiu para procurar emprego e não voltou mais. “É costume dele andar a pé pela rodovia. Ele tem os defeitos dele com a bebida, mas ele é muito bom”, afirma Daiane Aparecida, amiga da família.
Um irmão de Antônio e a cunhada, Dona Silvia, fizeram o reconhecimento do corpo, que foi liberado pelo IML e levado de São José do Rio Preto para Icém. “Identifiquei ele por causa de um bonezinho verde, de uma camiseta verde enrolada no pescoço dele”, conta Silvia.
Mas, durante o velório, outros parentes desconfiaram. “Tinha uma certa desconfiança de que não era ele, porque o caixão chegou lacrado, não tinha nenhum vidro, então ficou difícil da gente identificar ele”, afirma Ana Cristina Moreira da Silva, sobrinha de Antônio.
A notícia da morte de seu Antônio chegou até Nova Granada, cidade vizinha, onde estava seu Antônio, vivinho. “Eu fui em Nova Granada, mais minha sobrinha, meu cunhado, meu marido e meu sobrinho. Chegamos lá ele estava vivo mesmo”, conta Silvia.
A família registrou com celular o momento do reencontro.
“Talvez o nervosismo. Aquela ansiedade de querer achar, localizar a pessoa que estava desaparecida fez com que ele reconhecesse uma pessoa que não era, não tinha nada com o parente dele”, afirma o delegado, Antonio Honório Nascimento.
“O reconhecimento simplesmente não é um bom método para você liberar um cadáver. O primeiro passo seria o levantamento das impressões digitais”, afirma Eduardo Daruege, professor de odontologia legal da Unicamp.
Mas se não era o seu Antônio, quem estava no caixão? O morto voltou para o IML de Rio Preto. Foi aí que o improvável aconteceu de novo: a família de Eduardo Coelho, um senhor desaparecido há vários dias, reconheceu o mesmo corpo. E foi feito outro velório.
O IML liberou o corpo novamente, que dessa vez foi para Bebedouro, a 107 quilômetros. “Em todo o momento eu falava para a minha irmã: ‘mesmo reconhecendo visualmente, eu quero os documentos, eu quero as digitais, para gente poder dormir em paz’. Eles não fizeram recolhimento das digitais, e disseram que só o visual seria o suficiente. A sorte que eu fiquei batendo essa tecla. Pedi duas vezes”, conta Lili Coelho, irmã de Eduardo.
No meio do segundo velório, veio o resultado do exame e a notícia: também não era Eduardo. E lá foi o morto de volta para o IML de São José do Rio Preto.
O enterro do corpo sem identificação estava marcado para a manhã de sexta-feira (4). Mas, horas antes do sepultamento, uma terceira família procurou o IML.
“A gente ficou sabendo através da televisão. Um senhor que tinha sido velado por outra família”, conta o genro da vítima, Hildo da Silva Borges.
Só então, já com o registro das impressões digitais, o morto foi identificado: Lourenço Gouveia Dias. Depois do terceiro velório, e de quase 400 quilômetros de idas e vindas, Lourenço foi finalmente sepultado na tarde de sexta.
Em nota, a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo disse que vai apurar o caso.
A família de Eduardo Coelho continua na esperança de que ele seja encontrado vivo. Já Antônio Cardoso, o morto que estava vivo, não quer perder essa nova chance. “Eu quero dar um basta nesse negócio da bebida, quero arrumar um serviço, arrumar minha cabeça. Para Deus, nada é impossível”, afirma o soldador.
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