por
Patrícia Moraes, do iG Gente
Estereótipos racistas
Instituída pelo Estatuto da Igualdade Racial, a ouvidoria recebe,
registra, encaminha e acompanha denúncias de discriminação e racismo,
entre outras competências.
Assim, ao receber as denúncias o órgão autuou a Rede Globo de
Comunicação, em Procedimento Administrativo, nessa quarta-feira (10.09),
solicitando informações e dando ciência do encaminhamento das acusações
ao Ministério Público no Rio de Janeiro para que o órgão adote os
procedimentos cabíveis (a exemplo de instauração de procedimento
investigativo) caso entenda a ocorrência de alguma irregularidade ou
crime.
Em nota, o titular do órgão, Carlos Alberto de Souza e Silva Júnior,
informou que “vê com estranheza e preocupação qualquer tipo de
manifestação que reproduza estereótipos racistas, machistas, que se
alicerce na sexualidade das mulheres negras, ou venha a reforçar ideias
de inferioridade dessas mulheres, seja nas artes, no cinema ou nas
telenovelas e seriados”.
Para ele, os veículos de comunicação tem papel importante numa
sociedade democrática e devem atuar no sentido de garantir os direitos
das pessoas independente de sua cor/ raça, crença religiosa ou
orientação sexual.
“As produções televisivas deveriam refletir a diversidade da
população brasileira em todos os seus segmentos, contribuindo para a
consolidação de uma sociedade justa, plural e igualitária”, declara.
Leis na TV
Carlos Alberto Júnior lembra ainda que como concessões públicas as
emissoras de televisão estão submetidas às leis brasileiras e a
regulamentação específica imposta a esses veículos, na qual estão
explícitas a proibição e o repúdio ao racismo e à discriminação.
O Conselho de Defesa dos Direitos dos Negros pretende divulgar nesta
quinta (11.09) uma nota de repúdio à série com base nas imagens
mostradas nas chamadas veiculadas nos últimos dias na TV.
"Estamos preocupados com o enfoque racista e machista contra a mulher
negra que estão ali. Ainda devemos analisar se o conteúdo do programa
será preconceituoso, mas já podemos ter uma ideia pelas divulgações que a
emissora tem feita durante a programação", explicou Ana Rosa Oliveira,
do Conselho, ao iG nesta quinta-feira (11).
"Que caretice é essa?"
Em meio polêmica, Miguel Falabella se manifestou no Facebook. O autor
da série se mostrou indignado com a reação dos órgãos que representam o
direito dos negros, que chamou de "caretice". "Como é que saem por aí
pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que
perseguiam seus irmãos fugidos? O negro mais uma vez volta as costas ao
negro. Que espécie de pensamento é esse? Não sei o que é mais
assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor".
Leia abaixo o texto da chamada da série que foi ao ar na Globo:
Direto da comunidade, quatro amigas chapa quente. Lia (Lilian
Valeska) se vira nos trinta: "Gente, vamos ser objetivo, com dois mil e
oitocentos não dá pra escolher" (mostra personagem com a filha). Tilde
(Corina Sabbas) não faz nada contra a vontade: "Mas não depende só de
você" (ela diz a um pretendente). Soraia (Maria Bia)? Soraia é fogo: "Tô
enxergando mal ou o vendedor é um gostoso?" (comenta com as amigas). E
Zulma (Karin Hils) no momento está ocupada: "Sou eu pai, vai dormir"
(mostra a personagem aos beijos e abraços com um rapaz no escuro). Agora
é tudo do jeito delas!
Procurada pelo iG, a assessoria da Globo informou que, até o momento,
a emissora não recebeu qualquer ofício questionando o nome ou o
conteúdo do programa.
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