Antes de se mudar para o Resgate, há cerca de dois meses, ela morava no bairro de Tancredo Neves, onde tem uma loja de roupas femininas
Marido de Adinar (camisa quadriculada) com filhos de 12 (centro) e 8 anos. O menor saiu ileso do crime (Foto: Evandro Veiga)
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Um louvor cantado em coro guiava a multidão para o adeus à lojista Adinair da Silva Correia, 40 anos. Morta durante um tiroteio entre policiais militares e bandidos em motos, na altura do 19º Batalhão de Caçadores do Exército (19º BC), no Cabula, a lojista foi enterrada, ontem pela manhã, no cemitério Jardim da Saudade. Ela e o filho caçula, Felipe Correia, 8 anos, seguiam para CASA
, no Resgate, por volta das 18h de terça-feira, quando o carro em que estavam, um Palio Weekend, ficou no meio do confronto.
Adinair foi atingida por dois tiros. Antes de se mudar para o Resgate, há cerca de dois meses, ela morava no bairro de Tancredo Neves, onde tem uma loja de roupas femininas. “Ela deixou de morar lá (Tancredo Neves) por causa das trocas de tiros. É um bairro violento. Queria se mudar para um lugar mais tranquilo para criar os filhos. Estava decidida a não mais abrir a loja”, contou, em prantos, a prima Railma Silva dos Santos, 28. “Queremos Justiça. Sendo policiais ou bandidos os responsáveis pela morte dela, queremos que os culpados paguem!”, bradou Railma.
No dia em que morreu, Adinair tinha saído do trabalho e acabado de pegar Felipe no colégio. O menino, que estava sentado no banco do carona, saiu ileso. Durante o enterro, ontem, ele não falou. Apenas firmava o olhar para o corpo da mãe. “Ele tem chorado muito, o dia inteiro, mas não diz nada. Ele vai precisar de um psicólogo”, disse a prima.
“Acho um despreparo da polícia trocar tiros assim, num local bastante movimentado. Ela morreu enquanto estava parada num congestionamento”, declarou Daniela Rodrigues, 39, amiga de infância da vítima.
A sogra da lojista, Ednalva dos Santos França, 59, contou como soube da trágica notícia. A família foi avisada por amigos de que a nora dela tinha passado mal e por isso fora socorrida ao Hospital Geral Roberto Santos. “Disseram que não era nada grave, mas, quando cheguei, o irmão dela me abraçou e disse: ‘Perdemos a nossa Taís (como Adinair era conhecida na família)’. Fiquei sem chão. Uma excelente mãe, esposa e nora”, lamentou Edvalda.
O marido de Adinair, Alexsandro Santos Correia, 38, que estava o tempo todo ao lado dos filhos Felipe e Vinícius Correia, 12, preferiu não falar sobre a morte da mulher. “Ele chegou ontem (quarta) às 17h arrasado e ainda não sabe o que vai ser da vida dele sem ela”, disse a mãe de Alexsandro. Alexsandro, que trabalha numa empresa de seguros fazendo vistoria em veículos, estava de férias e viajou para a Holanda visitar a irmã, casada com um holandês (O marido de Adinair não é holandês, como o CORREIO informou ontem).
Adeus
Pouco mais de 350 pessoas compareceram ao sepultamento, iniciado às 11h. Vizinho da comerciante, o aposentado Carlos Alberto Viana Morais, 71, desmaiou durante o velório. “Foi de uma hora para a outra. Gostava muito dela. Uma vizinha tranquila. Sem palavras... Desculpe!”, disse, emocionado. Cinco minutos depois, uma vizinha também desmaiou. Ao contrário do aposentado, que logo se recuperou, ela foi carregada e socorrida por pessoas que estavam na cerimônia.
Quem também precisou ser amparada foi Valdirene Uzêda, 33, prima da Adinair, que mora na cidade de Teodoro Sampaio, no Centro-Norte baiano. Depois de passar mal, ela lembrou da última conversa que teve com a comerciante, há cerca de uma semana. “Me perguntou por que não vinha visitá-la. Mas não esperava vir aqui pra isso”, lamentou.
Pouco depois das 12h, o corpo de Adinair foi sepultado e uma chuva de pétalas de rosas somavam às coroas de flores sobre o caixão. “Vai com Jesus, minha filha. Um dia a gente se encontra. Vou cuidar de meus netos até Deus me dar forças”, disse a mãe de Adinair, Maria Jose Teixeira da Silva, 68.
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