sábado, 22 de março de 2014
Em meio à debandada, CBFS perde patrocínios e tem imagem arranhada
Empresa aguarda esclarecimentos para reavaliar vínculo, e Falcão detona presidente: 'Dizia que iria ver com quem ele queria renovar, quando na verdade era o contrário'
Por Helena Rebello e Juliana Vicente
Rio de Janeiro
A debandada de jogadores é apenas uma das dores de cabeça com as quais os dirigentes da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) estão lidando nos últimos meses. Chamada de “ditadura” por Falcão e criticada por vários outros ícones do futsal verde-amarelo, a entidade atravessa, além da crise política, um grave problema financeiro. Sem contrato renovado com seus dois principais patrocinadores, a CBFS encara um horizonte preocupante pela frente, já que a saída das principais estrelas da seleção e a revelação de pendências na comprovação de despesas podem gerar danos ainda maiores à imagem da instituição.
O cenário, no entanto, não surpreende o maior astro do país no futebol de salão. Sem economizar nas palavras, Falcão afirma que muitas vezes foi mantido na seleção justamente por pressão dos patrocinadores - versão confirmada por fontes ouvidas pelo GloboEsporte.com. O craque também revela um outro lado da relação entre a CBFS e as empresas que financiavam a Confederação: a soberba do presidente em relação ao poder da entidade na renovação dos contratos.
Falcão era o principal garoto propaganda das marcas que patrocinam a Confederação Brasileira de Futsal (Foto: AP)
BANCO MUDA RUMO; CORREIOS AGUARDAM REGULARIZAÇÃO
O GloboEsporte.com procurou as cinco empresas cujas marcas são exibidas pela Confederação em seu site oficial como patrocinadores e apurou que os responsáveis pelo aporte das maiores cifras ao longo dos últimos anos não renovaram os contratos com a entidade. O Banco do Brasil, parceiro desde 2007 e que pagava cerca de 4,5 milhões por ano para estampar sua marca nas costas da camisa, alegou mudança da estratégia do marketing e opção por investir no handebol, que é modalidade olímpica e conquistou o inédito título mundial em dezembro de 2013.
O patrocínio dos Correios à CBFS
2004/2005 - R$ 4 milhões
2005/2006 - R$ 4,5 milhões
2006/2007 - R$ 5 milhões
2007/2008 - R$ 8 milhões
2008/2009 - R$ 8 milhões
2009/2010 - R$ 8 milhões
2010/2011 - R$ 9,3 milhões
2012/2014 - R$ 20 milhões
A situação com os Correios ainda pode ser revertida, mas revela a seriedade do quadro. A estatal, que patrocinou a CBFS por 10 anos e tinha uso exclusivo da denominação “patrocinador oficial”, alega que está em processo de reavaliação da parceria devido a “pendências na entrega de documentos para comprovação de despesas e fiscalização do processo anterior”. Basta ver os números investidos para entender a resistência da empresa com a renovação. Entre 2012 e 2014 foram repassados R$ 20 milhões para a Confederação.
A Chevrolet não respondeu às solicitações da reportagem, e a Kagiva preferiu não se pronunciar sobre o assunto. A Pulse, fornecedora de material esportivo da seleção, alegou que os valores e cláusulas contratuais são confidenciais e lamentou o rompimento entre atletas e a Confederação. Afirmou, no entanto, que cumprirá o contrato até o fim.
Áecio de Borba e Wagner Pinheiro de Oliveira, então presidente dos Correios (Foto: Divulgação/Correios)
EMPRESA DE MARKETING EVITA FALAR SOBRE 'CALOTE'
Entre os patrocinadores da Confederação corre ainda a informação de que a entidade não teria honrado seus compromissos com a Entertainment Sports Management (ESM), empresa de marketing esportivo que tem como clientes clubes de futebol como Corinthians, Santos, São Paulo, Palmeiras, Vasco e Cruzeiro, além de marcas que patrocinam alguns dos principais times de vôlei do Brasil.
ESM foi contratada pela CBFS em janeiro de 2013 como parte do plano da diretoria para alavancar a imagem do esporte após a conquista do heptacampeonato mundial na Tailândia. O GloboEsporte.com apurou que, sem receber pagamento pelos serviços prestados, a empresa de marketing encerrou o vínculo e foi cobrar a dívida na Justiça. Procurada pela reportagem, a ESM apenas confirmou que não trabalha mais com a Confederação, mas preferiu manter silêncio sobre a dívida.
A ESM continua a exibir em sua página uma imagem da seleção brasileira de futsal em meio à de outros clientes. Ocorre que a empresa ainda presta serviços à Pulse, fornecedora de material esportivo justamente da CBFS.
'PRESIDENTE DESDENHAVA DE PATROCINADORES'
Falcão com a taça do Mundial de 2012, sétimo vencido pelo Brasil (Foto: Getty Images/Fifa)
Maior ídolo do futsal no país, Falcão vê a exposição da complicada situação financeira da Confederação com naturalidade. Segundo o craque, os patrocinadores compartilham as mesmas insatisfações que os atletas com a atual gestão da entidade e, por mais de uma vez, interferiram politicamente para que ele fosse mantido na escalação – contrariando o desejo da instituição, que barrou a escalação de outros atletas com que teve desavenças.
- Sempre falei da importância dos patrocinadores para a seleção. E, assim como os jogadores, os patrocinadores também estavam insatisfeitos com a gestão da Confederação. Em várias reuniões eu presenciei o Edson (Nogueira, diretor de seleções) desdenhando dos patrocinadores, dizendo que iria ver com quem ele queria renovar, quando na verdade era o contrário. Várias vezes eu fui convocado pelo técnico Ney (Pereira) e fui barrado pelo Edson, mas por muita pressão dos patrocinadores, acabei entrando. Eu já sabia que seria natural essa perda de patrocinador, porque estão encerrando o contrato com a confederação e eu não faço mais parte da seleção, é normal. Mas eu não estou me preocupando com isso porque fiz as contas, e seu perder todos os meus patrocinadores, consigo encerrar minha carreira bem, apenas com o meu salário no clube. Não é o mesmo para a Confederação. Eles precisam disso, precisam do investimento para manter o futsal em alto rendimento.
A versão de Falcão é confirmada por uma fonte ligada à Confederação.
A história do Falcão não se dar com a Confederação não é de hoje. Os patrocinadores sempre pressionaram para mantê-lo. Como os principais contratos venceram agora, ninguém interferiu desta vez. Vai ficar difícil para eles. Perdendo o maior ícone (do esporte), quem vai patrocinar?
Durante toda a sexta-feira, o GloboEsporte.com tentou ouvir a CBSF. Edson Nogueira, contatado por telefone, preferiu não se pronunciar. A assessoria de imprensa da instituição disse que encaminharia as perguntas enviadas pela reportagem à diretoria, mas até o momento da publicação desta matéria não houve resposta.
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