sábado, 22 de março de 2014
Sob pressão, Seedorf se irrita com jornalistas e abandona coletiva
Técnico diz que momentos no Botafogo o motivam a lutar para superar dificuldades no Milan, mas perde paciência ao ser questionado sobre encontro com torcida organizada
Por Cláudia Garcia
Milão, Itália
Mais do que palco para uma entrevista coletiva, a sala de imprensa de Milanello foi neste sábado o cenário de um tenso confronto de ideias e acusações entre Clarence Seedorf e os jornalistas italianos. O encontro serviria para abordar o jogo deste domingo, contra o Lazio, mas as questões foram todas na direção da possível demissão do holandês em caso de derrota em Roma e, na rodada seguinte, em Florença, contra o Fiorentina. Seedorf se mostrou incomodado com o tema, se enrolou em algumas questões, driblou com categoria tantas outras, Até que uma pergunta colocando em questão a coerência do técnico ao aceitar uma reunião privada com elementos da torcida organizada do Milan fez Seedorf abandonar a sala.
- Acho que por hoje é tudo - disse o técnico, que levantou e se dirigiu para a porta em seguida.
Seedorf: irritação durante entrevista coletiva (Foto: Claudia Garcia)
Encontro suspeito
Desde que regressou ao San Siro, Seedorf se reuniu com a elementos da torcida “Curva Sud” por duas vezes. A primeira foi logo no inicio do seu percurso como técnico e a segunda, no último domingo, após a derrota por 4 a 2 para o Parma. Os encontros entre torcedores e alguns jogadores são comuns na história do Milan, mas nem todos os atletas e treinadores aceitaram esse confronto direto. Kaká, por exemplo, também havia se reunido com elementos da torcida ainda durante a gestão de Allegri, para justificar o mau rendimento do time.
A reunião com Seedorf, confirmada pelo próprio técnico, não caiu bem a todos os elementos do Milan, mas o que desencadeou a polêmica foi uma suposta declaração do holandês, revelada pelo líder dos Ultras, sobre o elenco do Milan - o técnico teria dito que pretendia "dispensar três quartos do time na próxima temporada”.
Durante a coletiva deste sábado, Seedorf negou a afirmação. Horas antes, o jornal italiano “Libero”, havia publicado uma entrevista com outro elemento da torcida, que tentou livrar Seedorf, explicando os argumentos da reunião e negando a polêmica declaração. Pouco convencidos com as desculpas de Seedorf e da torcida, os jornalistas presentes na sala de imprensa bombardearam o ex-craque do time sobre o tema. Seedorf se limitou a negar, mas um jornalista foi mais longe e questionou as motivações de Seedorf para se reunir com os torcedores e lembrou a entrevista desta semana de Maldini ao “Gazzetta dello Sport”, em que o ídolo do clube dizia que nunca aceitou confrontos com a torcida. A insistência no tema e a comparação com Maldini deixaram Seedorf furioso e a reação foi a interrupção da coletiva.
Botafogo na memória
Antes de abandonar a sala, Seedorf havia também negado um ultimato do presidente Silvio Berlusconi, que, segundo a imprensa, pondera a demissão do técnico. O craque também contrariou a tese que o vestiário estaria dividido.
- Posso confirmar que tenho o vestiário do meu lado. Estamos unidos. Não li tudo o que se escreveu, leio só algumas coisas, senão fico louco. O meu estado de ânimo é o mesmo de sempre. Quando cheguei aqui, o clube me ofereceu um contrato com garantias de que fico no próximo ano. Até receber informações contrárias da parte de Berlusconi ou de Galliani, só posso pensar que tudo está igual e que irei continuar. Estou sempre muito motivado e estou confiante que os resultados vão melhorar - disse.
Os maus momentos que atravessa na Itália fazem com que o holandês sinta saudades do ano e meio que viveu no Brasil. Sem mostrar arrependimento por ter deixado o Botafogo, Seedorf lembrou aos torcedores do Alvinegro que ainda acompanha o time à distância e também por eles quer vencer no Milan.
- Pensei e refleti muito antes de abandonar a minha carreira de jogador no Botafogo e abraçar este desafio. Acompanho o percurso do time neste momento, o que me dá ainda mais prazer para fazer este esforço aqui no Milan para conseguir alguma coisa.
Seedorf em sua despedida do Botafogo: momentos no clube são inspiração hoje (Foto: Satiro Sodré / SSPress)
Embora tenha usado a palavra injustiça por mais de uma vez durante as suas declarações, Seedorf negou que a imprensa esteja pressionando o seu afastamento do cargo. O holandês explicou que se sente responsável pelo mau rendimento do Rossonero, mas enumerou os aspectos que na sua opinião melhoraram depois da sua contratação.
- Aqui não tem ninguém contra mim, no máximo estão contra eles mesmos. Eu só posso controlar as minhas ações, e as pessoas entendem muito bem onde há uma verdade ou uma falsidade. O meu objetivo é ter um time competitivo que ganhe as partidas. Desde que cheguei, acho que várias coisas melhoraram, sobretudo a condição física e mental deste time. No último jogo contra o Parma, mesmo com 10 em campo, os meus jogadores lutaram para virar o resultado até ao último minuto, algo que há um mês não teria sido possível. A mentalidade e a força de reagir estão lá e isso é muito importante.
Antes de se irritar novamente com os jornalistas e abandonar a sala de coletivas, Seedorf também comentou o suposto convívio conturbado com Adriano Galliani. O ex-camisa 10 alvinegro revelou que ambos têm uma boa relação “profissional”.
- Muito se tem escrito sobre isso, mas o fato é que nos conhecemos há 12 anos, passamos momentos privados juntos e a nível profissional sempre tivemos respeito um pelo o outro. Estou muito contente que ele venha com a gente para essa concentração importante com o Lazio e Fiorentina , porque a sua experiência é fundamental. Quando iniciei este percurso, um dos meus pedidos foi a proximidade de Galliani. Eu acredito nos meus conhecimentos ao nível técnico e tático, mas sei que no mundo do futebol é muito importante ter pessoas com experiência por perto.
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