terça-feira, 18 de março de 2014

Franciel Cruz: Maior revelação do futebol baiano

É óbvio que ninguém com mais de seis anos e três neurônios acredita nesta bobagem de que o destino já está traçado. Afinal, aceitar que existe uma entidade intangível e fantasmagórica a guiar e direcionar todos os nossos passos é abdicar do pouco de protagonismo que resta às nossas vidas queridas que já não são nem um mar de rosas. Porém, tem horas que ficamos tentados a crer na retrógrada teologia da predestinação. Nos últimos tempos, por exemplo, especialmente quando vejo o menino José Welison em campo, minhas convicções têm sofrido forte abalo. O pivete é um fenômeno. É destes raros casos de quem sempre soube o que quer e como conseguir. Não foi à toa que, com apenas 15 anos, deixou seu torrão natal, o Rio Grande do Norte, e veio para o Vitória, avisando a decisão aos pais por telefone, apenas alguns dias antes da viagem. Pouco tempo depois, com apenas 17 anos, tornou-se um dos protagonistas do importantíssimo título da primeira Copa do Brasil sub-20, conquistada pela Vitória no final de 2012. E vale ressaltar que o sujeito nem era titular da equipe. Porém, quando recebeu o passe de Alan Pinheiro, ali nas últimas voltas do ponteiro e com a casa fedendo a homem (o Vitória perdia do Atlético por 2 x 0 e mais um gol do Galo enojaria de vez o baba), ele dominou a criança com a serenidade dos convictos, avançou de modo destemido e, com o toque de craque, chutou no ângulo, selando a conquista. Em 2013, pouco sei sobre sua biografia, mas é provável que tenha passado o ano fazendo novos pactos com o destino. Sim, só isso para explicar que sua estreia como profissional, no dia 22 de janeiro, tenha ocorrido exatamente no jogo contra um time chamado Confiança. E, como já estava escrito há séculos, o garoto fez uma partida soberba e guardou um surpreendente (para os incréus) golaço de falta. A partir de então, tornou-se dono da camisa 5 do Vitória. Aliás, minto. Na verdade, o meio campo inteiro do time foi a parte que lhe coube no latifúndio. Porém, amigos de infortúnio, a vida é correria, mesmo para os predestinados. E como ele correu. Outro dia mesmo tava se estrebuchando de cãimbra, num destes babas inúteis do campeonato baiano. Aliás, por falar em baba inútil, o que leva uma pessoa a sair de seus cuidados num dia de chuva para ver uma peleja entre Vitória x Juazeirense, sendo que o Rubro-Negro já está classificado? Os outros 4.926 pagantes, num sei, mas este rouco e incrédulo locutor decidiu por uma questão, digamos assim, transcendental. Fui testar a veracidade da retrógrada tese sobre a predestinação. E, em verdade vos digo: ao ver José Welison fazendo miséria em campo, minha falta de fé nos obscuros desígnios já previamente determinados saiu abalada. Sinto-me hoje com menos de seis anos e dois neurônios. Assim, confesso e admito: existem, realmente, pessoas que são predestinadas, que já estão com o destino traçado. E o de José Welison é brilhar muito. Amém. P.S Logo após o jogo, um sacrista veio fazer graça dizendo que este argentino Ferrari, que jogou na zaga do Vitória, é um fusca. Ao me lembrar de todas as lambanças do referido, apenas admoestei meu interlocutor. “Respeite o fusca”. Aliás, esta minha zaga atual tá me fazendo ter saudades de Rubão e David Braz. Não, calma, minha comadre, largue esta pedra, estou apenas brincando.

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