domingo, 2 de março de 2014

Fabrício desabafa: 'Quer que eu faça o que para o cara gostar de mim?'

Volante afirma respeitar opção de Muricy Ramalho, mas afirma que 'não puxar o saco' de ninguém para ganhar um chance no São Paulo; contrato vai até dezembro Por Marcelo Prado São Paulo
Fabrício (à dir.), durante treino no CT do São Paulo(Foto: Marcos Ribolli) Fabrício sempre foi titular por onde passou. Experiente, chegou ao São Paulo no início de 2012 com a moral de quem seria uma extensão do capitão Rogério Ceni dentro de campo. De personalidade forte, ele era considerado a peça ideal para mudar o perfil de um grupo que havia desaprendido a conquistar títulos. Mas, dois anos depois, o meio-campista vive a experiência de estar encostado no elenco. Às vezes, fica fora até de coletivo no CT da Barra Funda. Situação que não deve mudar até dezembro, quando acaba seu vínculo com o clube. Pode-se dizer que Fabrício não teve sorte no São Paulo. Chegou com uma lesão na panturrilha e no tendão da perna esquerda. Ficou dois meses em tratamento. Quando voltou, teve outras duas lesões musculares. Para piorar, no dia 18 de junho de 2012, torceu o joelho esquerdo em jogo contra o Atlético-MG e sofreu rompimento do ligamento cruzado. Foram nove meses parado. Na volta, entrou em rota de colisão com o então técnico Ney Franco e acabou afastado. Ganhou nova vida com Paulo Autuori, mas foram só dois meses. Com Muricy Ramalho, tornou a cair no ostracismo. Apesar de tudo isso, o meio-campista de 32 anos não reclama. Neste início do ano, teve pelo menos cinco propostas para sair, duas delas de Goiás e Sport, mas não quis. Com salários estimados em R$ 200 mil mensais, o volante diz que não tem mágoa de Muricy Ramalho, mas afirma que não vai "puxar o saco de ninguém" para ganhar uma chance. Com a família adaptada a São Paulo, ele descarta sair agora. Uma transferência só será estudada a partir de janeiro de 2015. Confira a entrevista abaixo. GloboEsporte.com – Você é um cara que sempre jogou por onde passou. Como analisa sua situação atual? Fabrício – É uma situação nova na minha carreira, mas acredito que tudo serve para amadurecer. Não me considero em fim de carreira, tenho mais três ou quatro anos pela frente. Treino diariamente no mesmo nível dos companheiros, me sinto 100%, mas o treinador tem suas preferências e eu preciso respeitar. Mas, sem dúvida, é algo que incomoda... Sem dúvida. É chato para mim, mas eu respeito a opção do treinador. E respeito mais ainda o colega que joga na minha posição. Por isso vocês não me veem entrando em polêmica, falando alguma coisa, porque se tivesse jogando não iria gostar que um companheiro fizesse isso. Por isso, sigo quietinho, cumprindo meu contrato até o final do ano e pretendo cumprir. No ano que vem a gente vê o que acontece. Você havia ganhado algumas chances com o Autuori. Como mudou a situação com o Muricy? Depois que ele chegou, me tirou do time no primeiro coletivo, me sacou. Ele gosta mais dos outros volantes, e eu respeito isso. Eu o cumprimento todo o dia, venho aqui, trabalho, faço a minha parte. Quer que eu faça o que para o cara gostar de mim? Não vou ficar lambendo o saco de ninguém. Quer me colocar para jogar, coloca. Não quer, tudo bem, meu comportamento vai ser o mesmo. Mas você teve algum problema com o Muricy? De maneira nenhuma. Respeito a opinião dele, é um treinador supervencedor aqui, tirou a gente de uma situação muito difícil no ano passado. Eu não quero polêmica. Gosto de vir, trabalhar e viver em paz. Não gosto de ficar arrumando tumulto para chegar aqui e vir trabalhar desanimado, sem aguentar olhar para a cara de alguém. Lógico, fico chateado. Não estou jogando, e isso nunca aconteceu na minha carreira. Mas deixo minha chateação para fora. A partir do momento em que entro no CT, dou meu máximo, como se estivesse nos planos do treinador. Essa situação no São Paulo é irreversível? Acho que sim. O futebol vive mudando, mas como a coisa vem desde o início do ano, acho que sim, é muito difícil voltar a jogar aqui. Ele fala que aqui avalia pelos treinamentos e espero poder agradá-lo de alguma maneira. Você considera sua passagem pelo clube como frustrante? Afinal, não conseguiu jogar e mostrar o que todos esperavam. Isso acontece. Em nenhum momento, deixei de ser a pessoa que sou. Toda vez que joguei fiz meu papel, conversei dentro de campo e procurei motivar os companheiros. As coisas não dependem só de mim. Cheguei aqui no meio do furacão. O São Paulo não ganhava títulos faz tempo. Depois, ocorreram as mudanças de treinador no ano passado, coisas que não aconteciam.
Fabrício treina, observado por Muricy ao fundo: 'Dou meu máximo, como se estivesse nos planos' (Foto: Marcos Ribolli) Você teve azar no São Paulo? Foram muitas lesões.... Não posso dizer isso. Tive muito sorte na vida. Vou acabar sendo ingrato com o papai do céu e aí ele vai me castigar. O que passou é que cheguei lesionado e depois tive uma lesão grave no joelho. E ficou essa coisa de sempre estar machucado. A minha recuperação demorou mais. Lesão de joelho demora seis a oito meses para recuperar. Voltei em nove. No ano passado, fiquei dez dias parado por causa de um entorse no tornozelo e outros dez por causa de uma contratura. Como sair de casa todo dia para treinar sabendo que não vai jogar e que, às vezes, não vai disputar nem coletivo? Não vou ser hipócrita. Tenho família, dois filhos que dependem de mim e preciso de dinheiro. Daqui a pouco a carreira acaba e jogador não pode ficar se lamentando. Sou pago para vir treinar e trabalhar. Minha família depende desse contrato. Além do mais, existem motivos de sobra para se motivar. É só olhar para o lado no trânsito, observar debaixo de uma ponte. Sempre tem alguém pior que você. Não dá para ser arrogante. Sou feliz de estar no São Paulo apesar de tudo que está acontecendo. Você teve propostas para sair do São Paulo? Sim, recebi ofertas no começo do ano, mas nada me agradou. Sempre cumpri meus contratos e isso vai acontecer no São Paulo. Eu me planejo em cima desse acordo. Meus filhos estão adaptados aqui, não posso simplesmente sair e mudar. Essas trocas de cidade são desgastantes para eles. Vou ficar aqui até o fim do meu contrato. Você acha que a diretoria tem relação com o seu momento no clube? Não. Não sei se sou um iludido, mas acho que cada um faz o seu trabalho. A diretoria comanda do lado de fora, o treinador pensa no que é melhor para o time. Procuro ver o futebol dessa maneira. O que pensa para o futuro? Pretendo cumprir meu contrato até o final. Depois a gente vê o que acontece. Continuarei trabalhando do mesmo jeito. Às vezes, treino mais forte do que quem está jogando. Tenho lenha para queimar. Posso jogar mais três anos em alto nível com toda a certeza. Confio no meu potencial.

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