sábado, 25 de janeiro de 2014
O Esporte Clube Vitória e o calote proposital
O ex-presidente do Vitória, Alexi Portela Júnior, revelou, em entrevista à Rádio Metrópole, na última quarta-feira (22) e reproduzida pelo Jornal do mesmo nome, medidas que vão de encontro frontal com a reputação do clube, de quem sempre honrou suas obrigações e no bom trato e respeito às leis trabalhistas. Alex, na entrevista, na maior cara dura, confessa abertamente que já atrasou premeditadamente os salários de jogadores, como forma de forçá-los a pedir a rescisão amigável do contrato. A medida era tomada com o intuito de livrar o clube das multas e encargos previstos em caso de rompimento unilateral de contrato. “O cara tem que sentir no bolso” disse ele.
Veja ai.
Durante entrevista ao apresentador Zé Eduardo, na 2º hora do Jornal da Bahia no Ar, Alexi fez uma revelação bombástica quando falava sobre a tentativa de chegar a uma rescisão amigável com seus atletas, durante os 4 anos em que esteve na presidência do clube. De acordo com o dirigente, o Vitória deixava de pagar ao jogador para que o atleta se incomodasse e pedisse para sair do clube “amigavelmente”. “Se você quer botar um jogador para fora, pela Lei Pelé, você não bota”. Você tem que atrasar.
O cara tem que sentir no bolso para sentar para conversar com você, senão ele fica em uma zona de conforto. Fiz isso. Chamava o cara: ‘Ô, velho, não tenho dinheiro para lhe pagar. Vamos sentar aqui e conversar?’ Tinha que ser. Paciência, não tinha jeito”, disse o ex-presidente.
David Braz foi vítima da prática
Recentemente, o zagueiro David Braz viveu esse drama na gestão Alexi Portela. O atleta, que chegou em fevereiro de 2013 à Toca, foi afastado do grupo após o Campeonato Baiano e ficou fora dos planos para a seqüência da temporada. Com isso, de acordo com Braz, o Vitória atrasou seus salários para “forçar” uma rescisão amigável e se livrar da multa rescisória.
Em desabafo no Twitter, ele lamentou a atitude dos dirigentes. “Fiquei dois meses sem receber. Notifiquei os clubes, tanto Vitória quanto o Santos (clube ao qual pertenço). No dia que ia entrar o terceiro mês sem receber, eles pagaram dois salários. Fiquei chateado e pedi que a diretoria do Vitória enviasse uma liberação para eu voltar para o Santos. Mas, como o Vitória teria que pagar uma multa por rescisão de contrato de empréstimo, preferiram me manter aqui treinando. Hoje estou novamente com dois meses de salários atrasados. O mês de julho e julho sem receber”, escreveu na época.
“A prática é ilícita, ilegal”
Para o advogado trabalhista Sérgio Guimarães, essa prática que o ex-presidente do Vitória adotou é um ato ilegal e o jogador tem todo o direito de acionar a justiça do trabalho contra o clube. Além disso, Guimarães explicou que a lei se aplica a todo o trabalhador, independente da profissão.
“A obrigação do empregador é pagar os salários dos empregados em dia. O atraso implica numa rescisão indireta. Ou seja, se o patrão atrasa o salário, o funcionário tem o direito de rescindir o vínculo de trabalho sem que seja punido. Ele ainda tem o direito de pedir todos os direitos, como férias e 13º salário”, explicou o advogado.
“O jogador, neste caso, pode entrar com uma ação contra o clube por danos. Essa atitude do Vitória não é correta. É ilícita, ilegal. A lei é feita para todo trabalhador que, de um modo geral, não pode ter salários atrasados. O atraso injustificado é uma conduta irregular do empregador. Isso não pode existir e a lei não dá direito ao empregador para fazer isso. O funcionário tem que acionar a justiça do trabalho”, concluiu o especialista.
Declaração contrasta com imagem de bom pagador
O empresário Antonio Tillemont, um dos sócios da Antoniu’s Assessoria Esportiva, empresa que agencia a carreira de atletas, lamenta a declaração de Alexi Portela. “Rescisão de contrato de trabalho não se faz de forma unilateral. Existe um contrato com o tempo já estabelecido. E, para este contrato não ter mais valor, tem que ter a concordância das duas partes. O que ele fez foi tentar provocar e acho que isso acaba manchando a imagem que procurou passar de que era bom pagador. Ele deu uma declaração que sujou um dos requisitos mais importantes da administração dele: pagar em dia”, afirmou o agente.
Outros atrasos do clube
Tillemont, que sempre negocia jogadores com o Vitória, disse não se recordar de algum atleta seu ter passado por essa situação, porém, confessou que o time da Toca ainda deve o direito de imagem de alguns dos seus empresariados.
“O Vitória, na gestão de Alexi, sempre procurou pagar em dia, mas ultimamente tem pagado somente o valor registrado na carteira de trabalho e atrasado o direito de imagem, que hoje é considerado como parte do salário. Um exemplo disso é que eles pagaram os direitos de imagem do mês de outubro na última terça--feira (21) e ainda devem novembro e dezembro. Acho isso, no mínimo, estranho”, disse Tillemont.
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