Mesmo com a sensação térmica ultrapassando os 30°C, grande parte dos trabalhadores da capital baiana tem que trabalhar de calça
Naiana Ribeiro (naiana.ribeiro@redebahia.com.br)
Mesmo com a sensação térmica ultrapassando os 30°C, grande parte dos trabalhadores da capital baiana ainda tem que trabalhar de calça, camisa de manga e, inclusive, terno e gravata, apesar do calor de Verão. Pensando no desconforto, ou melhor, no conforto dos colaboradores, que podem trazer melhores resultados quando se sentem melhor, algumas empresas como a TIM e agências de publicidade já permitem que seus funcionários usem bermudas no ambiente de trabalho.
A TIM, por exemplo, aderiu, na semana passada, ao uso da peça durante a estação mais quente do ano. “É um movimento que está acontecendo em várias empresas do país e já acontece em todo o mundo. Focando nos valores inovação e pensando no cuidado e bem-estar dos colaboradores, adotamos a campanha do uso da bermuda na empresa”, explica a consultora regional de Recursos Humanos da TIM Brasil, Hélyda Guedes. Mesmo sendo apenas para o Verão, segundo ela, há possibilidades da medida ser estendida para todo o ano.
Conforto Se depender do consultor de planejamento comercial da operadora Lucas Freitas, no entanto, a bermuda e a camiseta polo vão ser usadas com muito mais frequência. “Recebemos muito bem a notícia. Com roupas menos formais, ficamos mais tranquilos e nos sentimos melhor”, conta. Para ele, trabalho não é sinônimo de roupa social. No entanto, é preciso saber dosar. “Dentro da nossa estrutura, não há problemas em usar este tipo de roupa em reuniões internas. Mas, quando for algo mais sério, como encontro com parceiro ou cliente, que é de natureza mais formal, é preciso usar roupas mais formais”, diz.
A Tim aderiu ao uso de bermuda (Foto: Marina Silva/Correio)
De acordo Hélyda, a adesão dos funcionários ao uso da bermuda foi imediata, mesmo com as restrições, que, segundo ela, são necessárias. “Estamos trabalhando com o bom senso. As bermudas devem ser discretas, não podem ter estampas florais, tipo as de surfe nem podem ser muito curtas. Precisam estar na altura do joelho”, diz. “A recomendação é evitar o uso das bermudas em reuniões mais formais e manter sempre uma calça no armário, para alguma emergência”, complementa.
RESULTADOS
Para a conselheira regional da Associação Brasileira de Recursos Humanos Seção Bahia (ABRH-BA), Margot Azevedo, qualquer ação que esteja ligada ao conforto das pessoas pode trazer melhores resultados. “A vestimenta interfere de forma significativa no ambiente de trabalho. Colaboradores que se sentem confortáveis são mais felizes e mais produtivos”, garante.
Segundo ela, entretanto, cada local tem seu limite de acordo com seu contexto e com os clientes. “Em uma empresa como o Google, por exemplo, com funcionários jovens, que estimula a criatividade, não há problema usar bermuda ou até mesmo sandálias. Mas, em casos de trabalhadores da indústria, onde é preciso usar tecidos específicos como medida de segurança, não será possível adotar a medida”, comenta.
Se em algumas empresas, a adoção de bermudas e uniformes mais confortáveis é recente, por conta das altas temperaturas, em outras, como na agência de publicidade Viamídia, o uso da bermuda ocorre no dia a dia há mais de uma década.
“No início, os funcionários podiam usar a roupa que quisessem, nas sextas-feiras. Depois, o pessoal pediu para que a medida fosse estendida para o Verão e, há três anos, a gente liberou para o tempo inteiro para o departamento de criação”, conta o sócio e diretor de criação e da agência, Neca Boullosa. “As pessoas do departamento, que fica junto com o núcleo digital, são descontraídas e criativas e não têm contato direto com clientes. Por isto, não temos nenhuma restrição”, explica.
O mesmo acontece na startup JusBrasil. Lá, bermudas, camisetas regatas, sandálias e saias fazem parte da rotina da empresa. “A gente está em Salvador, que é um lugar com muito calor, então é muito difícil não usar bermuda e roupas confortáveis. A empresa segue uma filosofia liberal com relação à flexibilidade: temos até uma sala de lazer, com sinuca e videogame”, explica o estagiário e programador Márcio Vicente.
Por conta das medidas, segundo Márcio, a produtividade na sala de trabalho fica até melhor. “Geralmente as pessoas lidam muito bem com esta liberdade, o que não afeta a nossa produtividade. A gente se sente em casa. Tem gente que gosta de trabalhar descalça, por exemplo, e fica muito mais à vontade. Juntando o útil ao agradável, nos sentimos bem melhor. Além disso, o trabalho não se torna uma obrigação e rendemos mais”, complementa.
#BERMUDASIM
Motivados pelo calor e pela falta de conforto no ambiente de trabalho ao usar roupas “compostas”, os publicitários cariocas Ricardo Rulière, Guilherme Anchieta, Vitor Damasceno e Saulo Catharino criaram no ano passado a campanha #BermudaSim, com site www.bermudasim.com.br, que pede a adoção da bermuda em ambientes corporativos.
“A gente manda e-mails anônimos para os chefes das empresas, a pedidos dos funcionários, e solicita que a bermuda seja liberada durante o Verão”, conta Guilherme. “No Rio, assim como na Bahia, nessa época é um calor enorme. Só nesse Verão, estamos com sensação térmica de 50°C.
Além disso, quase nenhuma empresa libera bermuda. Queremos provar que não é a roupa que faz o profissional. Usar bermuda ou não usar gravata não interfere no rendimento, a pessoa fica mais confortável”, explica. O movimento, hoje, conta com quase 20 mil curtidas no Facebook e recebe mais de dois mil e-mails por dia, reencaminhados automaticamente para as empresas.
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