segunda-feira, 28 de julho de 2014

Fama, salários e proximidade de casa fazem número de gringos decolar no futebol brasileiro


Contratação de estrangeiros também ajuda os cofres dos clubes, já que os gringos costumam aceitar contratos com salários inferiores aos dos brasileiros
Daniela Leone (daniela.leone@redebahia.com.br)

Cáceres, Escudero, Luís Aguiar, Gullermo Beltrán, Pittoni, Maxi e Emanuel Biancucchi. Quase um time inteiro de gringos representando o futebol baiano. A mostra da dupla Ba-Vi é reflexo do que vem acontecendo no Brasil como um todo. Cada vez mais, os gramados brasileiros estão sendo território de jogadores estrangeiros.
Foto: Robson Mendes


Os números provam isso. A 11ª rodada do Brasileirão registrou um recorde de atletas nascidos em outros países: 27 em campo. Dos 20 clubes da Série A, apenas o Goiás não tem gringos no elenco. Por que tantos atletas estrangeiros estão atuando aqui? Salário, estilo de jogo e visibilidade são os principais atrativos.

“Eu já tinha vontade há algum tempo de jogar aqui. É um futebol que eu sempre gostei e o Campeonato Brasileiro é uma vidraça (vitrine) muito boa”, vibra o meia uruguaio Luís Aguiar, recém-contratado pelo Vitória. “No Paraguai, Argentina e Uruguai, o futebol é mais pegado”, acrescenta o paraguaio Cáceres, na Toca do Leão desde o ano passado.

Cáceres e Aguiar vivem a primeira experiência no futebol brasileiro. Já o volante Pittoni, do Bahia, passa pela segunda. Nas temporadas 2011 e 2012, ele defendeu o Figueirense. Mesmo sem conseguir se firmar no tricolor, não se arrepende da escolha que fez. “O mercado aqui é muito bom, o futebol é competitivo e mais bem remunerado”, resume o atleta, que tem contrato até dezembro de 2015.
Maxi e Emanuel Biancucchi (Foto: Mauro Akin Nassor)



Grana
O diretor de futebol do Vitória, Marcos Moura, observa que o número de estrangeiros cresceu após o fim do Clube dos 13 e o início do contrato de imagem com a Rede Globo. Segundo ele, essa mudança foi determinante no poder aquisitivo dos clubes. 

“Deu uma crescida grande nas receitas. Antes, a gente não era tão diferente em termos de salário. Agora, o Brasil paga acima do restante da América do Sul”, contextualiza o dirigente, responsável pela vinda do goleiro colombiano Viáfara para o Atlético-PR. De 2008 a 2011, o arqueiro fez sucesso no Vitória. 

“Acho que o Brasil está pagando muito bem. Acho que é o país que está pagando melhor na América do Sul”, confirma Aguiar. A possibilidade de aumentar a poupança em menos tempo é um dos fatores que motiva Cáceres a permanecer no mercado brasileiro. O contrato do volante com o Vitória é até dezembro, mas ele pretende renovar. 

“Aqui tem times grandes e poderosos, que têm um nível econômico muito bom. Eu queria vir para o Brasil para melhorar em todos os sentidos, futebolisticamente e também econômico. Minha vontade é continuar no Brasil e no Vitória”, avisa. 

Cáceres é um dos exemplos de contratação bem sucedida. Junto com os argentinos Escudero e Maxi Biancucchi, ele fez sucesso no Vitória na temporada passada. A aposta deu tão certo que o então presidente do clube, Alexi Portela, pleiteou e conseguiu aumentar o número limite de estrangeiros em jogos. Antes, cada clube só podia mandar a campo três atletas. Agora, cinco são permitidos. 

Foto: Evandro Veiga
Rivalidade 
Os bons frutos do Leão também encheram os olhos do rival. No início desse ano, Maxi mudou de lado e fechou contrato de três anos com o Bahia. No entanto, na história recente do Fazendão, nenhum gringo virou ídolo e tem até candidato a vilão. 

Com pré-contrato assinado, o meia argentino Romagnoli, não se apresentou no Fazendão na data combinada e disse não querer vir mais. “É um caso isolado, absolutamente isolado. Normalmente se costuma cumprir aquilo que está assumido. É a primeira vez que vejo um contrato não funcionar”, ressalta o diretor de futebol tricolor, Ocimar Bolicenho. 


A contratação de estrangeiros também ajuda os cofres dos clubes, já que os gringos, na maioria das vezes, costumam aceitar contratos com salários inferiores aos que os brasileiros estão acostumados a pedir. “É uma alternativa viável financeiramente para bancar a contratação. São salários absolutamente menores do que o Brasil está exigindo”, afirma Bolicenho. 



Marcos Moura enxerga benefícios que vão além dos financeiros. “O jogador que vem do estrangeiro tem uma educação diferenciada. Se você pega um uruguaio, um chileno, jogadores que o próprio país já tem um nível de educação melhor do que a média do Brasil, você tem um jogador que geralmente tem um nível de profissionalismo melhor, ele já se cuida mais, tem comportamento mais direcionado e uma cultura geral, às vezes, melhor. Isso contribui para o grupo e esse processo ajuda no desenvolvimento”, opina. 

Alternativa
A busca dos clubes por atletas estrangeiros também cresceu por conta das regras de contratação da CBF. Um jogador não pode atuar por mais de dois clubes na Série A durante o ano. Além disso, os clubes não podem pegar por empréstimo mais do que cinco jogadores da elite. 

“Isso limita muito a sua possibilidade de se reforçar ou de intercâmbio entre os clubes. Na Série B, não vai encontrar muitos jogadores que atendam às suas necessidades. Essa questão do estrangeiro acabou sendo uma das poucas e melhores vias pra você reforçar seu time”, diz Marcos Moura. 

Ele revela que antes de contratar o atacante paraguaio Guillermo Beltrán, o Vitória estudava uma lista com 20 atletas da posição, 15 deles eram estrangeiros. O sucesso dos conterrâneos serve de estímulo. “Eles estão à vontade nos clubes e isso dá tranquilidade pra quem vem de fora”, festeja Cáceres.



Foto: Divulgação/EC Bahia

País de origem sinaliza a produtividade, diz dirigente

A proximidade geográfica também é um atrativo. Esse aspecto pesou na decisão do uruguaio Luís Aguiar.

Ele jogou quatro anos e meio na Europa e recebeu proposta recentemente para voltar ao velho continente. Aos 28 anos, o meia optou por encarar um desafio mais próximo de casa. “Aqui eu tô pertinho da minha casa, dos amigos, da família. Se eles quiserem vir, é pertinho, fica aqui do lado. Isso é muito importante na hora de decidir onde jogar. A Europa fica muito longe”, afirma o meia do Vitória.

Para o diretor de futebol do Bahia, Ocimar Bolicenho, o país de origem sinaliza uma maior chance de produtividade. “Paraguaios, argentinos e uruguaios têm poucos problemas de adaptação. Já o colombiano, equatoriano e peruano têm mais dificuldade, precisam de um prazo maior, por conta da cultura, da forma de ser”, garante. “Tive experiências com colombianos que, em cinco meses, não conseguiram se firmar. Realmente eles têm maior dificuldade de adaptação. Passa pela família, pela formação, pelo estilo de jogo”.

Em 2011, os colombianos Tressor Moreno (meia) e Mosquera (volante) não tiveram sucesso no Fazendão. 


Foto: Mauro Akin Nassor



Copa do Mundo no Brasil também atraiu estrangeiros
A realização da Copa do Mundo não foi um fator decisivo na escolha dos gringos da dupla Ba-Vi, mas os deixou ainda mais animados para jogar no Brasil.


“A mim, sim. Foi uma Copa bem feita e somou no Campeonato Brasileiro, na questão econômica. Acho que isso também atraiu o jogador a vir pra cá”, diz o meia Luís Aguiar, apresentado pelo Vitória logo após o mundial.

“A Copa do Mundo deixou muitas coisas, como estádios muito bons. Lá no Paraguai não existe nenhum estádio como a Fonte Nova, o Mineirão ou qualquer estádio que a Copa deixou. Tudo isso motiva para jogar sempre em alto nível”, diz o volante rubro-negro Cáceres.

“Os centros de treinamento e concentração são muito bons. Tudo isso ajuda para ter um melhor desempenho em campo e se sentir confortável no lugar onde trabalha. Isso é muito importante também”, completa.

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