quarta-feira, 22 de abril de 2015

Idoso morto na Sete Portas esperava por mulher: “ela viu ele dando o último suspiro"



Ele foi morto a tiros na Sete Portas durante um suposto assalto
Alexandre Lyrio | Colaborou Yne Manuella (alexandre.lyrio@redebahia.com.br)


A Rua Laura Costa, uma das ladeiras que ligam as regiões da Sete Portas até Brotas, é um perigo à noite. O aposentado Miguel de Souza Braga, 66 anos, não queria que a mulher andasse pela região e subisse a ladeira sozinha ao voltar do trabalho.

Por isso, todos os dias, ia buscá-la de carro, no ponto de ônibus onde ela descia, em frente ao Mercado das Sete Portas, na Rua Cônego Pereira. O casal morava na Vila Laura. Na noite de segunda-feira (20), enquanto esperava a mulher chegar de mais um plantão como assistente social do Hospital Juliano Moreira, Miguel foi surpreendido por dois homens armados.
Acima Miguel de Souza Braga, 66 anos, cujo corpo foi enterrado ontem no cemitério Jardim da Saudade. Ele sempre ia buscar a esposa no ponto de ônibus onde foi assassinado; polícia trata caso como latrocínio
(Foto: Evandro Veiga)
Ele estava dentro do carro, um Gol cinza, estacionado em frente ao mercado, quando foi morto com dois tiros, um no tórax e outro na cabeça. A esposa de Miguel desceu do ônibus minutos depois. Esperava seguir para casa de carona.
Deu de cara com a pequena multidão ao redor do carro  do marido, e ele quase morto. “Ela ainda viu ele dando o último suspiro”, disse uma amiga do casal, que não quis ser identificada. Segundo informações preliminares divulgadas ontem pela manhã pela Central de Polícia (Centel), passava das 20h30 quando os bandidos anunciaram o que seria um assalto.
Ele foi morto a tiros na Sete Portas durante um suposto assalto.
 Idoso esposa dentro de carro; bandidos não levaram nada
(Foto: Evandro Veiga)
Aí começam as controvérsias. A polícia trabalha com a hipótese de latrocínio.
A Centel resumiu-se a informar que a dupla anunciou o assalto, exigiu o veículo e na sequência atirou em Miguel. A 2ª Delegacia (Lapinha), responsável pela área, não deu detalhes do crime.
Na verdade, sequer o havia registrado. Um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) esteve no local do crime e presidiu o levantamento cadavérico, mas o departamento também preferiu não dar informações do ocorrido. Até a tarde da terça-feira (21) não havia a confirmação de quem investigaria o caso.  
Abalados  
O fato é que, por algum motivo ainda não elucidado, os bandidos atiraram.
“Ele tinha um inchaço na perna e tinha dificuldades de andar. Como ele mancava e puxava da perna, os caras podem ter achado que ele tava armado”, sugeriu o microempresário Gil Morais, sobrinho da esposa de Miguel.
Abalados, nenhum outro familiar quis comentar o crime no Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues. Acontece que, durante o sepultamento, outros familiares do aposentado disseram que ele foi morto dentro do carro, onde o corpo foi removido por peritos.
Eles também informaram que os assassinos fugiram sem levar nada. Deixaram o veículo, carteira e uma quantia em dinheiro (não informada) que ele levava no bolso. Neste caso, o aposentado teria sido vítima de uma tentativa de latrocínio. Mas testemunhas ouvidas pela reportagem contestam essa versão.
“Eu vi quando tudo aconteceu. Estava naquela janela de casa (aponta para prédio defronte). Vou te dizer uma coisa, eu não sou perito, mas aquilo não foi um assalto. Os caras chegaram, desceram de um carro e atiraram. Isso pra mim é execução”, disse um rapaz que trabalha no mercado e mora bem próximo ao local do crime.
Outra testemunha descreveu ao CORREIO a ação dos bandidos da mesma maneira.
Pacato
Miguel não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Em nota, a Polícia Militar informou que uma guarnição da 2ª Companhia Independente de PM (CIPM/Barbalho) isolou a área onde o crime aconteceu enquanto aguardava a chegada de uma ambulância do Samu para constatar a morte do aposentado. 
Independente das versões, durante o enterro, amigos de Miguel o descreveram como uma pessoa pacata, tímida e que falava pouco. Além da mulher, deixa dois filhos e um neto. “Ele não tinha inimigos, era incapaz de fazer mal a uma mosca. Era um homem caseiro, muito tranquilo”, afirmou o autônomo Luiz Ubirajara, amigo do aposentado.
Justamente por conta do jeito sereno de Miguel, amigos e parentes que estiveram no velório, realizado na tarde de ontem no cemitério Jardim da Saudade, em Brotas, não acreditam que o crime possa ter sido motivado por algum desentendimento ou vingança.
“Ele era tão tranquilo e calado que a gente brincava ‘fala alguma coisa, Miguel’. Todo mundo gostava dele, não tem como se tratar de briga ou coisa assim”, afirmou outro amigo do aposentado, que pediu anonimato.
A morte violenta gerou indignação entre os presentes no sepultamento, que reuniu cerca de 40 pessoas. “É muito doloroso. Ele era uma pessoa de bem e morreu assim. Algo precisa ser feito para conter essa violência”, afirmou a aposentada Ivalda Carvalho, amiga da família. 
“Como é que tiram a vida de uma pessoa assim? Uma hora dessas, o assassino está por aí, se divertindo, e nós aqui chorando a morte de nosso amigo”, contou uma outra amiga de Miguel, que pediu para não ser identificada.   

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