Jovem baleado negou que houvesse blitz e diz que faltou cuidado por parte dos policiais. "Os responsáveis poderiam ter mais cautela no tipo de abordagem deles", afirma. Duas pessoas ainda foram detidas por desacato pela PM e levadas à 23ª Delegacia (Lauro de Freitas)
A Polícia Militar divulgou uma nota, na manhã deste sábado (22), afirmando que o PM que baleou Saulo Emerson de Jesus Cunha, 29 anos, na perna após uma abordagem no Centro de Lauro de Freitas, teria realizado o disparo acidentalmente.
Segundo a nota, Saulo estava na companhia de Samuel de Assis Araújo Junior, 20, na moto e teria jogado o veículo para cima do policial, que teria caído e disparado a arma. A polícia afirma, ainda, que os dois foram detidos e apresentados na 23ª Delegacia de Polícia, apreendendo na mochila de Saulo maconha, pedras de crack e cocaína. Testemunhas que estavam no local afirmaram que não havia blitz e que depois da ação o PM que fez o disparo agiu com truculência com quem tentou registrar o que acontecia.
Saulo enviou um vídeo à TV Bahia falando sobre o que aconteceu. "Os responsáveis poderiam ter mais cautela no tipo de abordagem deles. Falaram que furei uma blitz, que não existia na verdade. Ele simplesmente atravessou a rua, pediu que eu parasse e não esperou o tempo necessário para que eu pudesse parar. Simplesmente pegou e atirou".
Leia a nota divulgada pela PM:
Após lançar a motocicleta que conduzia contra um soldado PM, em uma abordagem em Lauro de Freitas, nesta sexta-feira (21), às 14 horas, os suspeitos Saulo Emerson de Jesus Cunha, 29 anos, e Samuel de Assis Araújo Junior, 20 anos, foram detidos e apresentados na 23ª Delegacia de Polícia, assim como a droga que transportavam. Policiais militares do PETO/52ª CIPM apreenderam na mochila de Saulo certa quantidade de maconha, pedras de crack e cocaína. Isso depois de o acusado, acompanhado de Samuel de Assis Araújo Junior, 20 anos, ter desobedecido à ordem de parada durante a blitz. Ao ser atingido pelo veículo o policial caiu, sua arma disparou e atingiu Saulo na perna direita, o condutor foi socorrido Hospital São Rafael pelo SAMU. Drogas, motocicleta (placa JNV-6236) e detidos foram conduzidos para a delegacia de Lauro de Freitas.
Entenda o caso
A viatura que estava no local era do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto)."O menino não foi tão rápido (ao parar a moto). Aí ele (o PM) foi e atirou na perna", relata uma testemunha que prefere não se identificar. O fato foi por volta de 12h30 de hoje, em uma rua movimentada próxima a um Bradesco e à prefeitura da cidade. Inicialmente três policiais estavam no local, onde segundo moradores costuma ficar parada uma viatura, mas depois outros chegaram.
Logo depois que Saulo foi baleado, houve confusão no local. Muitos populares tentaram filmar e fotografar a cena e segundo testemunhas o policial não gostou, chegando a intimidar as pessoas para que parassem de registrar. "Ele saiu puxando pelo asfalto quente (Saulo), o menino baleado foi parar lá do outro lado. E depois disso aí quem tirava o celular para gravar essa situação, ele tentava parar. Ele chegou a tomar o celular de uma menina e tirou foto dela para intimidar", diz a testemunha. Um dos policiais ainda teria guardado um projétil que estava no chão.
Júlia Bahia, que testemunhou parte da situação, também relata o que aconteceu. "Ele simplesmente atirou na perna do rapaz. Ele disse que o menino não obedeceu para parar, mas obedeceu porque todo mundo viu", conta. "Ele chamou o Samu dizendo que foi um acidente de moto, absurdo". E acrescenta: "Ele bateu em outro rapaz, deu um soco e levou pra delegacia. Tomou o celular da menina. E as pessoas viram tudo, é um lugar movimentado. Foi uma barbaridade. E ele levou a mochila do menino, deveria ter aberto ali se queria dar flagrante de algo". Ela afirmou que o soldado se identificou como Souza.
Saulo foi socorrido posteriormente por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). De acordo com amigos, ele passou por cirurgia no Hospital do Aeroporto e há perspectiva de que passe por tratamento de até três anos para se recuperar, pois nervos foram atingidos comprometendo a movimentação do pé. Ele deve fazer outra cirurgia para reconstruir o osso. Ele trabalha em uma loja no Aeroporto de Salvador e estuda Mecânica no Senai.
Além de Saulo e Samuel, duas pessoas também foram conduzidas à delegacia por desacato aos PMs - Rosimeire Souza Borges, 34 anos, e Alan Oliveira de Souza, 42. Os amigos negam que Saulo tenha envolvimento com o crime. "Ironicamente, ele sonha em ser policial", diz um amigo. Em 2009, ele chegou a prestar concurso para a corporação.
O caso foi registrado como auto de resistência que originou lesão e continuará sendo investigado pela 23ª DT.
O vídeo abaixo, feito por um cinegrafista amador, mostra policiais conversando com pessoas que presenciaram o episódio. Segundo testemunhas, o mesmo PM que atirou em Saulo apaga imagens de um celular de uma mulher. Um homem recuperou o celular e tentou correr com ele, mas o PM foi atrás dele e o deteve por desacato.
Fonte: Correio da Bahia
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