O Brasil serviu um banquete para os organizadores da Copa do Mundo e a Fifa se serviu dele como bem quis. Ela começou com uma varredura na lei que proíbe a venda de bebida alcoólica nos estádios. Durante a Copa pode, mas só a cerveja liberada pela Fifa. Para as outras bebidas alcoólicas continua valendo a lei.
Depois vieram as ordens para que tudo fosse feito de acordo com o padrão Fifa. E se seguiram as marcas e patentes exclusivas, o fim da burocracia para os interesses dela, o que se pode e o que não se pode vender nos estádios, o que se pode e o que não se pode veicular como propaganda, as palavras que não se podem pronunciar. Até no direito de ir e vir a Fifa mexeu. A serviço dela estará a PM, revistando e interceptando quem não gosta de futebol, mas passa perto do estádio.
Tudo isso porque o Brasil não tem mais futebol na vitrine. O mundo não está mais nem aí para o futebol brasileiro. Passou-se o tempo em que os tupiniquins eram os artistas, os mestres, os gênios que encantavam plateias. Já não existem Pelés, Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Garrinchas, para ficar só nesses nomes, que pontificavam com a bola nos pés, entortando a coluna dos gringos. Dos nossos espetáculos de futebol já não emana aquele brilho intenso de outrora. A luminosidade fátua de um ou outro jogador é tragada pelos escândalos.
O que está em foco é o mal administrado país, entregue a gangues políticas, a senhores feudais que seduzem os pobres, a estelionatários que urdem falsas verdades com mentiras explícitas. A Copa, como evento esportivo, como festa internacional do esporte, está perdendo lugar nas manchetes internacionais. O que se exibe aos olhos do mundo é o retrato de um país incompetente e desastrado, onde a ordem é o caos. Ao invés da exaltação dos grandes feitos do futebol brasileiro, a mídia estrangeira está mostrando as misérias do Brasil.
A violência, a criminalidade, a pobreza, a corrupção, a falência dos sistemas de saúde e educação, o “pau” quebrando na rua, a desorganização e a irresponsabilidade em geral, o sumidouro do dinheiro público, a morte chegando com vaso sanitário na cabeça ou nos desabamentos de construções para a Copa são as pautas que dominam o noticiário sobre o Brasil.
Nem o Vaticano deixou de dar o seu “pitaco”, embora, nesse campo, esteja sem a autoridade e a isenção que o tema exige. Semana passada, ao alertarem o mundo inteiro sobre a exploração sexual, os porta-vozes de Deus mencionaram especialmente o Brasil, para onde acorrerão turistas ligados ao futebol e gringos loucos por mulheres e bumbuns tropicais.
Esse é o palco do espetáculo que o Lula ofereceu para o mundo, crente de que o povo se deixa engambelar por pão e circo, (leia-se Bolsa-família e futebol pelo telão HD financiado com o programa “Minha Casa, Minha Vida”). Deu no que deu: a vinda de um colonizador da Fifa, chamado Jerôme Valcke, para fazer os subdesenvolvidos levantarem do berço esplêndido. E a mídia com o olho em cima, mostrando que o Brasil não leva jeito.
João Eichbaum é advogado e autor do livro Esse Circo Chamado Justiça.
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