Onze cães morreram envenenados e este foi segundo caso em 2014.
Entidades protetoras reforçam necessidade de maior apuração da polícia.
Carolina Sanches
Do G1 AL
Animais morrem após serem envenenados no Neafa, em Maceió (Foto: Michelle Farias/G1)
Animais morrem após serem envenenados no Neafa, em Maceió (Foto: Michelle Farias/G1)
Carnes envenenadas dentro de ONGs que cuidam de cães e gatos que foram retirados das ruas. Este é o cenário que assusta entidades protetoras dos animais em Alagoas. Neste ano, dois casos de envenenamento foram registrados no estado. O último aconteceu no dia do Natal, quinta-feira (25), no Núcleo de Educação Ambiental Francisco de Assis (Neafa), que registrou a morte de onze cães. As entidades também cobram o governo para que a delegacia de proteção aos animais, que está desativada há anos, volte a funcionar.
Todos os animais que apresentaram problemas de saúde estavam no mesmo canil onde foram achados, segundo os veterinários do Neafa, vestígios de alimento envenenado. A equipe de voluntários, que montou uma força-tarefa para tratar os animais, acredita que o veneno foi lançado por cima de muro que fica trás da sede.
Na manhã de sexta-feira (26), foi confeccionado um Boletim de Ocorrência para registrar o fato na Central de Flagrantes. O caso foi encaminhado ao 4º Distrito da Polícia Civil, que ficou responsável pelas investigações.
Cão passou por atendimento após envenenamento
no Acolher (Foto: Arquivo Pessoal/Naíne Teles)
no Acolher (Foto: Arquivo Pessoal/Naíne Teles)
Outro caso semelhante aconteceu em novembro quando sete cães do Projeto Acolher foram envenenados na sede da entidade, no bairro do Village Campestre II, em Maceió. Dos sete animais, cinco morreram. Eles comeram uma substância conhecida como "'chumbinho", cuja venda é proibida.
As mortes por envenenamento revoltaram entidades protetoras no estado principalmente pela falta de punição aos culpados. Segundo a fundadora e presidente do Projeto Acolher, Naíne Teles, a entidade prestou depoimento em delegacia, mas não recebeu resposta sobre as investigações.
“Os casos são revoltantes. Tivemos muito apoio da sociedade e órgão de proteção aos animais, mas da parte da polícia nada foi resolvido. Quando fomos na delegacia comum percebemos que não há um preparo para cuidar desse tipo de caso e também que a alta demanda prejudica a investigação”, falou.
A situação registrada nas duas ONGs fez com que as entidades reforçassem a cobrança para a reativação da delegacia de proteção animal, que está fechada há anos em Alagoas. Em abril de 2011, o governo do Estado publicou uma Portaria, titulada como Lei Delegada 44, que, entre outras ações cria uma Delegacia Especializada no Combate aos Crimes Ambientais.
De acordo com a mensagem, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado, o órgão deverá integrar a estrutura da Delegacia da Polícia Civil do Poder Executivo e atender à reivindicação de instituições governamentais e não-governamentais, preocupadas com a conservação da natureza.
Segundo o projeto de lei, “a delegacia pretende instituir, prevenir, reprimir e diligenciar, no intuito de apurar a autoria e a materialidade das infrações penais previstas no Código Penal, na Lei de Contravenções Penais e nas leis especiais, com exclusividade em Maceió, e concorrentemente com a Delegacia da circunscrição do local onde ocorrerem as infrações praticadas contra o meio ambiente e o equilíbrio ecológico”, diz o texto.
Membros do GVAM mostram abaixo-assinado para
cobrar delegacia. (Foto: Carolina Sanches/G1)
Apesar da publicação da lei, ela nunca saiu do papel. Alegando haver necessidade de atuação policial para apurar a responsabilidade criminal dos infratores, entidades defensoras do meio ambiente e dos animais organizam um abaixo-assinado e participaram de uma audiência pública para discutir o problema.
Uma delas foi o Grupo Vida Animal de Maceió (GVAM), formado por voluntários que atuam há oito anos em ações em benefício dos animais. Para a presidente do grupo, Luceli Mergulhão, a falta de punição faz com que os casos aumentem. “Quando o culpado não é encontrado, isso acaba sendo um incentivo a que outros casos aconteçam. É revoltante ver esses absurdos com cães que estão dentro de ONGs e nenhum culpado é punido”, desabafou.
Luceli acredita que existe uma dificuldade para as pessoas denunciarem porque não sabem onde buscar ajuda. “A pessoa é encaminhada para fazer o BO, mas quando chega nas delegacias o caso, na maioria das vezes, não é apurado. Temos relatos de muitas situações que a pessoa não quis ser testemunha e por isso ele não seguiu adiante”, falou.
Outra integrante do GVAM, Mônica Brasil da Silva falou que o grupo está tentando entregar o abaixo-assinado ao governador eleito Renan Filho (PMDB). “Vamos tentar que a nova gestão reative a delegacia para que casos como esses de envenenamento não aconteçam mais”, disse.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que não há previsão para que a delegacia especializada seja implantada devido a deficiência de pessoal e operacional.
Quatro câes ainda estão em estado grave no Neafa (Foto: Paula Nunes/G1)
Envenenamentos
O envenenamento dos cães do Neafa aconteceu na madrugada do dia 25. Voluntários denunciaram o envenenamento de 30 cães que estavam no canil da sede da instituição, que fica no bairro do Farol, em Maceió. Ainda no dia 25, oito animais não resistiram a dosagem do veneno aplicada nos alimentos jogados dentro do canil e morreram. Outros três animais morreram um dia depois.
Até a noite de sábado (27), quatro cães estavam em estado grave. Segundo informações da assessoria de comunicação do Neafa, os animais que foram envenenados comeram pedaços de carne que estavam misturados a alguma substância tóxica não identificada. O alimento teria sido lançado por uma pessoa, também não identificada, pela parte de trás do imóvel que abriga atualmente 77 animais.
No caso do Projeto Acolher, registrado no dia 12 de novembro desse ano, sete animais foram envenenados. Dos sete animais, quatro morreram no mesmo dia e um alguns dias depois. De acordo com Naíne Teles, nenhuma pessoa suspeita entrou na sede. Ela acredita que quem envenenou os cachorros deve ter jogado os pedaços de carne por cima do muro, já que ele é muito alto.
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