EM VISITA AO BRASIL, PARA MINISTRAR PALESTRAS SOBRE LIDERANÇA, A INDIANA RAJSHREE PATEL FALA SOBRE ESTRESSE, QUALIDADE DE VIDA, REALIZAÇÃO E FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA PARA O SER HUMANO
RAJSHREE PATEL (FOTO: DIVULGAÇÃO)
“No fundo, a busca por trás de todos os desejos é pela alegria”, afirma Rajshree Patel, uma indiana que viaja o mundo fazendo palestras sobre liderança, respiração e meditação. “As pessoas estão percebendo que não basta o conforto, é importante ter felicidade.”
Ela já se apresentou em mais de 35 países, em organizações como IBM, Morgan Stanley, Universidade de Harvard e Unesco, entre outros. Na semana passada, esteve em São Paulo e falou sobre equilíbrio entre trabalho, família e qualidade de vida para uma plateia que incluía gerentes e diretores de empresas.
Entre os dias 2 e 4 de setembro, vai ministrar um workshop, na capital paulista. O tema – Conecte-se para Liderar – é um chamado aos executivos que pretendem ir além de técnicas de gestão para o dia a dia. “Uma pessoa só está totalmente realizada se tiver 200% de sucesso”, diz ela. “Cem por cento no trabalho, e 100% internamente.”
Ela não trata o tema com misticismo nem algo distante do escritório. Seu objetivo é gerar resultados que impactam diretamente na produtividade: redução do estresse, melhora na concentração e no poder de tomar decisões, criatividade e eficiência. A seguir, ela faz um diagnóstico da saúde – física, mental e emocional – dos executivos, fala sobre os brasileiros e dá pistas de como é possível construir um tipo de sucesso que não têm nada a ver com sofrimento, estresse e esgotamento.
Como você avalia o estado de saúde emocional e mental atual dos executivos?
Deixe-me antes definir o que é saúde. É uma junção de saúde física, mental e emocional, espiritual. Olhando para esses três aspectos, eu raramente vejo executivos saudáveis. Eles podem fazer exercícios físicos, mas notavelmente não conseguem dormir. Muitos estão tomando algum tipo de remédio para dormir, ou para ajudá-los a relaxar. Eu os vejo estressados, sobrecarregados. Eles não têm tempo para aproveitar suas vidas. Quanto mais ocupado alguém é, menos parece ter a saúde interna. Esta é a saúde de estar centrado em si mesmo e ter a capacidade de sentir prazer no que estão trabalhando.
Eles parecem conscientes desse estado?
Frequentemente, nós confundimos inteligência com consciência ou observação. Inteligência é a habilidade para classificar, julgar, analisar e dissecar. A consciência é a capacidade de ver as classificações, os julgamentos, as análises fora de você. Isso está faltando. Nesse sentido, muitos executivos não estão conscientes de estarem gastando metade de sua saúde para ganhar riqueza. E que, mais tarde, gastarão metade do que ganharam para recuperar a saúde. Eles estão conscientes do custo, do preço que pagam para fazer o que têm que fazer. Podem atingir mais conforto, ter casas maiores, carros maiores, contas bancárias mais cheias, mas o sorriso deles não está ficando maior.
É um mal do nosso tempo?
Eu acho que a demanda sobre os executivos está se tornando maior. Havia um tempo em que você ia para casa e não estava mais acessível. Agora, por causa dos celulares, e-mails, mídias sociais e todas as outras tecnologias disponíveis, você nunca está fora do escritório. A mente, por razões de saúde, de bem-estar, de sucesso, precisa sair das situações. Qualquer executivo sabe, por exemplo, que quando está em uma atividade desafiadora, precisa parar, sair dela por um período, para que possa ter uma perspectiva nova sobre o desafio. Está faltando isso para as pessoas.
Você é otimista em relação ao futuro? Acredita que as coisas vão mudar?
As coisas estão sempre mudando, essa é a natureza. Mas, sim, eu acredito que as pessoas estão se tornando, mais e mais, conscientes sobre a vida. Elas estão percebendo que não basta ter conforto. É importante ter alegria, felicidade. Eu frequentemente digo que o sucesso deve ser medido em 200% de realização. Isso significa você ter todo o conforto do mundo externo, mas também um sorriso no seu rosto, que representa o sucesso interno. As pessoas estão reconhecendo esse valor, a necessidade da família, da conexão, do compartilhamento, da comunhão. Porque, no fim, o que nós fazemos com o que fazemos? Seja o mais alto executivo ou o motorista desse executivo, o que eles fazem com isso? Quando as pessoas vão para muito longe desses valores, de alguma forma, cedo ou tarde, percebem que a vida não está funcionando. Vejo que a tecnologia, a era da comunicação, está unindo as pessoas. Estamos percebendo que temos que aprender a nos conectar com a natureza humana. Não só com as informações.
É possível dar algumas sugestões para fazer sair do estado de inconsciência?
Uma é se dar conta de que o mais importante para a vida de qualquer um é o que está por trás de todo desejo: a busca por alegria. O poder, por exemplo. As pessoas não querem o poder pelo poder. De alguma forma, o poder é uma forma de encontrar alegria em sua vida. A vida é muito mais do que as coisas mensuráveis. Independentemente de quanto sucesso você tenha, quando chegar a hora de deixar esse planeta, você vai de mãos vazias. Você sabe disso. E se realmente sabe disso, então não fica preso em coisas muito pequenas. Ao mesmo tempo, em qualquer coisa que esteja fazendo, vai buscar viver inteiramente e ser feliz. Quais são os momentos em que as pessoas se sentem mais felizes? Quando compartilham, quando se importam. Se alguém der um chocolate a uma criança, ela não vai economizar para o futuro. Ela divide isso com as pessoas. Porque isso traz alegria. Há uma alegria em ganhar. Mas há uma alegria especial em oferecer. Nós precisamos ver a vida de maneira ampla. E isso não tem nada de místico. Se você é um empresário, quer ter sucesso, quer vender seu produto. Se a sociedade ao redor não está funcionando, é violenta, não tem educação, não tem riqueza, então quanto sucesso você poderá ter como um homem de negócios? Não muito.
Qual sua visão sobre o brasileiro?
Eu adoro ver que nesse país há mais conexão, mais humanidade, vocês reservam o tempo para a família no domingo. Na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, as famílias estão se perdendo, porque se mudam por causa do trabalho. Como resultado, as relações familiares não estão fortes. E uma das coisas mais bonitas do Brasil é ver essa união. Mas eu também vejo que, devagar, isso está se perdendo, se destruindo aqui. Seria uma pena, um custo que leva o país ao que eu chamo de degradação. Por isso, é tão necessário manter um equilíbrio entre a vida interna e a vida externa.
Como se faz isso no dia a dia?
Uma das razões pela qual eu acredito que as pessoas se tornam desconectadas delas mesmas, da família e da sociedade é porque hoje há cada vez mais pressão sobre elas. A tecnologia está fazendo o mundo mais e mais rápido. Os empresários e executivos têm muitas demandas. Eles ficam estressados. Esgotados. A resposta seria reduzirmos o número de coisas que temos que cumprir na vida. Mas isso não é possível para a maioria das pessoas. Você tem família, tem trabalho, existe o trânsito. Não podemos reduzir a demanda. A segunda opção é encontrar modos de ser mais energizado. Estar mais profundamente descansado internamente. Se você notar, quando está bem relaxada, consegue realizar o mesmo número de tarefas que a deixaria esgotada. Você tem mais paciência e fala: “Ok, vou resolver uma coisa por vez”. Mas como aumentar essa energia? Sabemos que exercícios ajudam. Alimentação também. Mas o segredo está em conquistar uma energia além do que você acredita ser possível. E isso se faz através da meditação e da respiração. Essa energia você pode usar em tudo o que quiser. Não é algo como tomar um Red Bull. É energia de vitalidade. Você se sente vibrante, conectada, entusiasmada. Então, suas funções de alegria, autoconfiança, entusiasmo ficam ligadas. Você realiza mais em menos tempo.
RAJSHREE PATEL VIAJA O MUNDO FAZENDO PALESTRAS SOBRE LIDERANÇA, RESPIRAÇÃO E MEDITAÇÃO (FOTO: DIVULGAÇÃO)
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