domingo, 28 de dezembro de 2014

Conheça a cidade na Bahia onde mulher comprometida é coisa rara

Teodoro Sampaio tem muito mais mulheres do que homens, o que explica o índice
Thais Borges (thais.borges@redebahia.com.br)


Entre as moradoras do município de Teodoro Sampaio, no Centro-Norte do estado, é bem difícil encontrar alguma que considere a vida um paraíso. Para elas, falta emprego, segurança, infraestrutura... e homem. E não é apenas uma sensação. Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atestam: em Teodoro Sampaio, seis em cada dez mulheres (58,5%) com mais de 18 anos não convivem com um cônjuge (seja em um casamento formal ou não), o que coloca a cidade, de 8 mil habitantes, no topo do ranking baiano da solteirice feminina.
Fotos: Mauro Akin Nassor
O resultado é maior do que a média da Bahia (45,13%) e bem distante da realidade do município de Luis Eduardo Magalhães, no Extremo–Oeste, onde apenas 27,02% das moças não encontraram um amor para chamar de seu (veja no texto da página ao lado).
Uma das razões da liderança de Teodoro Sampaio está bem clara nos números: o município tem mais mulheres do que homens. Lá, de acordo com o Censo de 2010, existiam apenas 89 homens para cada 100 mulheres. Em 2000, a situação era um pouco mais equilibrada, porque eram 94 rapazes para cada 100 moças.
“A nupcialidade tem uma razão muito direta com a razão de sexos, porque a gente está falando dessa disponibilidade numericamente favorável dos homens. Quando eles são poucos e elas são muitas, é natural que o número de solteiras seja maior”, explica o coordenador de disseminação de informações do IBGE, Joilson Rodrigues.
CasamentoSó que isso não quer dizer que as moças de lá não queiram casar (nem que queiram). De acordo com o juiz da comarca da cidade, que também atende o município de Terra Nova, Marcelo Lagrota, os homens de Teodoro Sampaio costumam sair da cidade em busca de emprego.
“Todos os meses, eu faço casamentos lá. Homem é que está um pouco difícil, porque eles saem em busca de oportunidades no mercado de trabalho, enquanto elas ficam numa situação mais conservadora. Hoje, a cidade é quase dormitório”, argumenta.
A média de enlaces fica em torno de 40 por ano, segundo o padre local, Márcio Andrade. “É uma cidade muito envelhecida, porque os jovens saem para trabalhar muito cedo. Tem cidades grandes próximas: Salvador (100 km) e Feira de Santana (46 km) e Conceição do Jacuípe (24 km), então eles não ficam aqui”.
Ou seja: os homens crescem e saem de Teodoro Sampaio deixando as mulheres teodorenses para trás. “É um município pequeno, com economia fraca. Por isso, as pessoas são forçadas a emigrar. No entanto, historicamente, as mulheres preferem ficar perto de suas casas”, diz Joilson Rodrigues, do IBGE.
Na casa de Patrícia, tanto ela quanto a filha, Valéria, são solteiras
OpçãoDiante disso, as irmãs Mariana, 26 anos, e Marilena Alves, 24, não sabem nem mais para onde olhar. No caso delas, a solteirice não é opção... É falta de opção mesmo. “Tem pouquíssimos homens. Adolescente e idoso não falta, mas jovens a partir de uns 20 anos são raros”, afirma Mariana, que é nutricionista e diz que pretende se casar.

“Só não acho que vai ser com alguém daqui!”, brinca ela, que vai diariamente trabalhar em Feira de Santana, onde a situação está um pouco melhor (48,6% das mulheres não convivem com cônjuge).
E esqueça aquela história de tranquilidade no interior. “E tem muito jovem envolvido com o tráfico de drogas aqui, então não dá para ficar com um desses. Precisamos de qualidade, senão não adianta, né?”, pontua Marilena, que é assistente social.
Mãe e filha 
E o problema não escolhe idade. Na casa da artesã Patrícia Gomes, 36 anos, tanto ela quanto a filha, Valéria, 16, estão solteiras. Patrícia foi casada, mas desde que terminou um relacionamento, há cerca de um ano, não se envolveu com mais ninguém. Já Valéria está fora da estatística, mas sente a dificuldade desde hoje. Ela namorou um rapaz de Salvador, por três anos, mas não tem mais companhia.
“A cidade até teria homem, só que eles vão embora porque precisam trabalhar. O maior exemplo são meus três filhos, que estão em São Paulo. Meu antigo companheiro também foi trabalhar em Minas. Por isso, aqui tem muita mulher chefe de família, mãe solteira”, comenta Patrícia.
O operador Leno Santos, 23, é desses que já rodaram o Brasil. Apesar de ter voltado para Teodoro Sampaio, nos últimos anos esteve em Minas Gerais, Sergipe e em outras cidades do interior da Bahia. “Aqui, a maioria dos trabalhos tem a ver com a prefeitura. Mas não acho que só tem mulher solteira”, contesta ele, que namora uma moça de Jaíba.
Juliana diz que a concorrência é alta
Atrativos De fato, Teodoro Sampaio não é município lá muito atraente para jovens. O comércio, por exemplo, fica praticamente restrito a uma praça principal, onde também fica o fórum e uma agência bancária. E a vida noturna?

“O point é a pracinha, mas quem vai é todo mundo que a gente já conhece. Não tem gente nova”, diz Valéria, a filha de Patrícia.
A administradora Daniela Barros, 30, também não sai muito. “Não tem atrativos aqui, lugares para sair ou para ter alguma diversão, então a gente fica em casa mesmo ou vai para alguma outra cidade que tenha”.
E, claro, tem aquelas que são solteiras por razões, digamos, mais universais. “É difícil achar alguém que a gente goste. Às vezes, é uma pessoa legal, mas não bate a química, ou é alguém mulherengo”, pondera a auxiliar administrativa Nívia Roseiro, 41.
E, para completar, vem a dificuldade de encontrar alguém da mesma faixa etária com os mesmos interesses. A amiga dela, Neide Freire, 46, diz que sofre com isso. “E, como sou cristã, é difícil encontrar alguém que tenha a mesma fé”, explica.
Cuide bem 
Com tanta mulher, a concorrência também é alta. Por isso, as comprometidas costumam fechar o cerco, segundo as solteiras. “Quem tem o seu trata de guardar, porque se perder vai ser difícil achar outro”, brinca a manicure Juliana Souza, 21.
E quem não tem pode tentar resolver o problema pedindo ajuda e fazendo muita promessa para Santo Antônio, o casamenteiro, ou tomando medidas extremas - como viajar quase 900 km em direção ao lugar onde a realidade é o oposto. Em Luis Eduardo Magalhães, que fica quase na divisa com o estado do Tocantins, uma coisa é certa: a proporção de homens é de 112 para cada 100 mulheres.
Depois que ficou sabendo disso, a assistente social Marilena Alves já até se animou. “Aqui, em Teodoro, já perdi as esperanças. Mas acho que é para essa cidade aí, Luis Eduardo, que a gente tem que ir”. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas, em todo caso, boa viagem e boa sorte.
Salvador tem 83 homens para cada 100 mulheresEm Salvador, a coisa também não está fácil para ninguém. A capital tem a pior proporção da Bahia entre homens e mulheres: são 83 rapazes para cada 100 moças. Além disso, Salvador ocupa o 8º lugar no ranking das cidades baianas com o maior número de moças solteiras (53,24% das mulheres com 18 anos ou mais não vivem com cônjuge). “A solteirice de Salvador provavelmente tem a ver com a baixa disponibilidade de homens. Além disso, na capital, é mais comum que as pessoas tenham relações menos formais”, explica o coordenador de disseminações do IBGE, Joilson Rodrigues.
Por isso, a estudante de Arquitetura Carina Macêdo, 22 anos, nunca encontrou alguém com quem tivesse vontade de ter uma relação mais séria. “Nós temos uma vida corrida e acabamos não tendo uma relação mais profunda com as pessoas. E ficou disseminado entre os jovens isso de não ter compromisso. Parece que o bom é só ficar e o namoro é quase algo pejorativo”.

Luis Eduardo Magalhães: o reino das comprometidas
Enquanto Teodoro Sampaio ganha pela solteirice, no município de Luis Eduardo Magalhães, no Extremo-Oeste do estado, acontece o contrário. Lá, a maior parte das mulheres está bem comprometida. Segundo o IBGE, apenas 27,02% das moças que moram na cidade, fundada em 2000, não vivem com cônjuge.
A proporção entre homens e mulheres também ajuda a entender: são 112 rapazes para cada 100 moças. Além disso, de acordo com o coordenador de disseminação de informações do IBGE, Joilson Rodrigues, o município ainda é uma área de dominância masculina. “Por ser um município em expansão, é   mais  comum que as mulheres que vão para lá cheguem com a família. E também tem uma cultura agrícola muito forte, ainda que tecnológica”, explica.
Assim, diante de um cenário onde as mulheres estão em menos quantidade, os homens podem querer garantir o compromisso. “As mulheres ainda não conseguiram um grau de equilíbrio, em termos númericos, naquele ambiente. Por isso, eles podem pensar, ‘ah, deixa logo garantir a minha’. Quando há um equilíbrio maior entre a razão de sexos, isso vai mudando”, diz Joilson.
Assim, quem estiver desejosa de casar já deve conhecer o canal. Pelo menos é o que diz a empresária Dávila Pimentel, 30 anos, que mora na cidade há três e está comprometida há dois anos e meio. “Aqui é o lugar, porque não tem muita opção de entretenimento, então todo mundo acaba namorando”, aconselha. Ela sabe o que diz: está de casamento marcado para o final de 2015. Além disso, Dávila garante que os homens são maioria por lá. “Tem restaurante que você fica até com vergonha de entrar, porque só tem homem. E tudo homem bonito, viu? Nas baladas, tem pouquíssimas mulheres”.
Mas, mesmo com a concorrência pequena e a baixa taxa de solteirice, não quer dizer que a conquista seja fácil. “Claro que tem aqueles que não querem compromisso, especialmente porque alguns estão só passando temporada”.
Depois de Teodoro Sampaio, as outras campeãs de solteirice...
São Félix, no Recôncavo baiano, tem 55,19% de mulheres com   mais  de 18 anos que não vivem com cônjuge. 
Cruz das Almas, também no Recôncavo, tem 54,7%. Na proporção, são 84 homens para 100 mulheres, atrás só de Salvador.
Anguera, no Centro-Norte, 54,38% das mulheres não têm companheiro. São 92 homens para 100 moças. 
Castro Alves, no Recôncavo da Bahia, tem um índice de 54,24%. Lá, tem 89 homens para cada 100 mulheres. 
Terra Nova, também do Recôncavo, tem 89 homens para 100 mulheres. O índice de solteirice é de 54,15%. 

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