'Não foi nada fácil minha vida. Parece que tive que reconstruir toda uma vida novamente', revela em entrevista ao Correio
Angelo Paz (angelo.paz@redebahia.com.br)Dante revela que pediu a jogador alemão para parar gozação após 7 a 1 na Copa
Titular na fatídica goleada por 7x1 para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, no Mineirão, o zagueiro Dante, do Bayern de Munique, está de férias em Salvador e conta, em um bate-papo na casa da mãe, na Federação, as dificuldades enfrentadas nos meses após o vexame. Fala também sobre o técnico Pep Guardiola - “muito diferenciado” -, diz que Neymar tem potencial para superar Messi e relaciona futebol com educação: “Tem tudo a ver”.
Seis meses depois, o que lembra daquele 7x1 pra Alemanha?
Nunca mais vai acontecer na história. Não só pelo placar, mas porque não dava nada certo pra nós. Falei sobre a preparação psicológica: o futebol de hoje muitos têm talentos, mas tem uma hora que você precisa ter frieza, tem que ter concentração, tem que ter foco, tranquilidade para reverter uma situação.
Como foi a recepção na Alemanha após o vexame?
Pra mim foi o pior que poderia acontecer. Quando voltei, senti uma perda de respeito. Não só as pessoas do clube, mas o pessoal de fora. As pessoas esqueceram tudo que fiz pelo Bayern, tudo que fiz em minha carreira. Não foi nada fácil minha vida. Parece que tive que reconstruir toda uma vida novamente. Vou continuar mostrando pra eles que sou mais forte do que eles pensam.
Houve muita gozação?
No início estavam brincando, pois estava tudo muito recente. Eram coisas normais. Mas eu estava muito triste. Chegou uma hora que eu conversei com o Thomas (Müller) pra brincar de outra coisa, de outra maneira. Aquilo ali não estava mais fluindo, eu estava querendo esquecer. Daí eles ficaram tranquilos, respeitaram. Não são do tipo que ficam brincando com a cara do outro pra ver o outro mal.
Depois da Copa você não foi mais convocado. Acabou seu ciclo na Seleção?
Eu sou um cara jovem, viu (risos)? Chegou um novo treinador, deu oportunidade a outros jogadores. Está cada vez mais distante. Sou lúcido, realista. Na próxima Copa eu vou ter 35 anos, é complicado planejar algo. Ele (Dunga) tem que dar oportunidade a outras pessoas mais jovens. Devido a isso eu me distancio da Seleção.
Camisa de São Jorge e sandália no pé, Dante curte o Largo do Binóculo, onde viveu a infância (Foto: Mauro Akin Nassor)
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Qual passa a ser o seu grande objetivo agora?
O verdadeiro vencedor não é aquele que ganha uma. Agora é outra meta. Tenho fome de estar sempre vencendo. Futebol daqui a um tempo vai acabar pra mim. Quero aproveitar cada minuto do meu sonho que está sendo realizado. Nunca deixei de trabalhar porque fui campeão de quase tudo. Essa é a mentalidade de um verdadeiro vencedor.
O tema pós-Copa gira em torno da reformulação do nosso futebol. O que é necessário?
A escolaridade é muito importante. O futebol tem tudo a ver com educação. Quando se fala de uma tática de futebol, divisão de espaço em campo... Tem muita coisa que o treinador fala que depende da clareza do jogador. Lá eles investem. Fica a grande dica.
É fácil entender Guardiola?
Ele é um professor taticamente. Ele não explica o futebol de uma forma muito fácil, muito clara. Se você não tiver clareza na cabeça, não vai entender nada. Ele explica matemática: dois contra um, três contra dois... Sempre trabalha taticamente para ter superioridade de um lado do campo. Trabalha muito com a cabeça do jogador, com a inteligência. Muito diferenciado. O ponto que diferencia ele é a fome de vencer, de ser o melhor, de encontrar a perfeição. Mesmo com todos os títulos, ele quer mais.
Ele seria uma boa influência para você apostar na carreira de treinador no futuro?
Como eu sou muito de discutir tática, gosto de falar lá na defesa, seria um dos grandes objetivos no futebol. Vou fazer um curso de treinador. Tirar licença. Trabalhei com grandes treinadores e tenho essa vontade de ser um. Gosto muito da possibilidade de ajudar um novo jogador.
Por falar em inteligência aplicada ao futebol, quem seria o atacante mais difícil de marcar?
Messi. Ele é muito imprevisível. Muda de direção muito rápido. Inteligente. Um cara que tem um domínio da bola muito curto. Ele não dá a impressão ao zagueiro que pode roubar a bola dele. Isso é muito complicado. Ele sempre acha um companheiro, faz um-dois... Quando não tem, ele vai sozinho. Ele esconde a bola. Quando está bem, não tem como parar. Contra que time for, não tem como parar.
Onde ficam Cristiano Ronaldo e Neymar nesse bolo aí?
Ronaldo é um grande jogador, mas Messi é mais imprevisível. Neymar consegue passar Messi, viu? Se ele continuar com essa mentalidade. É exemplo pra todo mundo, tem condições. Messi é muito difícil de igualar, mas o que Neymar está fazendo é extraordinário.
E depois de falar tanto de futebol, o que Dante não pode deixar de fazer nas férias em Salvador?
O que eu não posso deixar de fazer é a vida que Dante fazia quando morava aqui. Ir pra praia, ver meu amigos. Tentei voltar a jogar bola na rua, mas o pé encheu de bolha e não dá mais (risos). Sentir o calor, reviver toda minha vida de moleque. Quando eu volto tenho uma alegria maior. Eu não perco minhas raízes.
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