Aline Damazio (aline.damazio@redebahia.com.br)
Imagine você ser o único vendedor em uma cidade a comercializar determinado produto com clientela crescente e fidelizada. Ou melhor, uma gama de produtos que só podem ser encontrados de imediato em sua loja. É o sonho de todo comerciante, não é?
Foto: Reprodução/Instagram
|
Em época que as lojas são quase idênticas, os rappers e empreendedores Rangel Alcântara, o Mobiu, 38 anos, e Evaldo Neto, o CDoze, 26 anos, fez valer a máxima da oferta e procura. Há oito meses os artistas estão em dupla jornada. Eles inauguram a única loja que comercializa produtos específicos para a cultura Hip Hop, a Afreeka.
Com mais de 20 anos de envolvimento com a cultura Hip Hop, Mobiu e CDoze concretizaram um comércio que já praticava de forma ativa na internet. “Já comercializava produtos de Hip Hop nas redes, mas por uma ruptura de sociedade resolvi investir em um espaço físico. Poderia escolher entre São Paulo, que tem várias outras lojas do gênero, e Salvador. Optei pela capital baiana para ser pioneiro. Fiz a escolha certa”, conta Rangel.
Foto: Reprodução/Instagram
|
Difusão da cultura
Quem passa pelos Barris pode confundir, a princípio, a loja Afreeka como mais uma loja do modesto Shopping Colonial, mas ao se aproximar do ponto comercial percebe que na verdade é uma fusão do comercial com o cultural. A vitrine é cuidadosamente organizada com camisas tamanho GG, em meio a livros, bonés, CDs e colares. Por conta dessa diferenciação, uma geração do movimento Hip Hop de Salvador se direciona para a única loja da capital que vende produtos relacionados à esta manifestação cultural. E não só soteropolitanos, mas artistas como Emicida, Marechal e Amiri, quando fazem show aqui, aproveitam para passar no espaço e renovar o estoque de roupas e bonés.
Quem chega no espaço é acolhido com um abraço, um estalado cumprimento de mão e convidado para entra e 'trocar uma ideia'. “A gente não vê a Afreeka como uma loja. Aqui é um ponto de encontro para interagir, trocar experiência, circular e saber o que está acontecendo no cenário baiano. Não é só relação de troca de produto. É, também, troca de conhecimento. As pessoas acreditam na frase que está na camisa do MC, se identificam e compram. Quem vai ao local quer saber o que está acontecendo no cenário do Hip Hop”, explica CDoze.
O cientista social Jorge Hilton acredita que este seja um dos atrativos da Afreeka. “O que motiva os simpatizantes e adeptos de uma cultura a se dirigir a uma loja específica é a identidade impressa nos produtos comercializado no espaço. Nessa loja se concentram pessoas diferentes, mas com gostos parecidos, não só de roupa, mas de ideologia”, comenta.
Foto: Reprodução/Instagram
|
Internet: uma aliada“Nós vendemos online também, mas a galera gosta de vir aqui conversar sobre Hip Hop, ler um livro, falar do novo trabalho que está produzindo... Já que estamos na estrada há mais tempo e o nosso público gosta de viver a cultura”, pontua Rangel. Cultura que gera o sustento das duas famílias da dupla empreendedora. “Tenho um faturamento bruto de R$ 18 mil por mês, mas ainda não é o ideal. Como já tinha alguns produtos em estoque, facilitou a revenda. Coloco os meus custos em cima do que adquiro e uma pequena porcentagem de margem de lucro, que pode variar de produto para produto, em média de 5% a 10%. Na loja, 'o parceiro' encontra produtos com preços que variam entre R$ 5 e R$ 250”.
Outra forma para atrair a atenção desse mercado é vender exclusivamente marcas de artistas e bandas do movimento Hip Hop como os rappers Projota, Rael, Marechal e Cone Crew. Mas no espaço é valorizado mesmo o escambo de conhecimento. “Procuramos organizar bate-papos e pokets shows, justamente para divulgar a cultura entre aqueles que aparecem por aqui”, conta CDoze.
“A Afreeka é minha vida, mas fico mais feliz em vender um livro ou trocar uma ideia com um cliente do que vender uma camisa, um boné. A roupa é só uma forma que encontrei para chegar a mais lugares com a cultura Hip Hop”, conta Rangel. A iniciativa de vendas dos artigos ligados ao Hip Hop incentivou um legião de artistas a gerar renda através de confecção das próprias marcas de camisas, como a Divegana, ESC Skate Art, Coleção D’Ori, Colé de Mermo, Deixa de Fofoca e Trabalha, Arte Bastarda.
Venda itineranteOutro exemplo de protagonista que movimenta positivamente o mercado local do Hip Hop, mas em outra modalidade de comercialização de itens, é Tarcísio Filho, de 32 anos. Ele é dono da Tau Street Store, que realiza vendas itinerantes de revistas, CDs e roupas. Casado e pai de três filha, Tau divide seu tempo entre a família e a presença nos eventos da cultura Hip Hop nos finais de semana. “Observei que o mesmo artista cantava, vendia CD, ingresso... Ali vi uma forma de combinar minha formação de administrador de empresas ao que gosto.”
Foto: Reprodução/Instagram
|
Tarcísio estudava o mercado in loco e concluiu que era preciso organização e formalização para se dar bem. Ele buscou novos investimentos para microempreendedores individuais junto ao Desenbahia, gerou capital para não comprometer a renda pessoal e fez algo que aprendeu fora academia: fez parcerias confiáveis para adquirir produtos em quantidade para quando revender ter sua margem de lucro.
“Trabalho com o que eu gosto, né? Por isso, procuro oferecer os melhores produtos, ter novas estratégias e fortalecer a cultura local. Assim, eu ganho, meus parceiros ganham e a cultura ganha”, diz Tarcísio.
Hip Hop na veiaMas se engana quem pensa que os artistas querem faturar e abandonar a carreira de músico. “Eu vivo o Hip Hop 24 horas por dia. Vejo uma peça, chego em um canto, escrevo uma letra de rap, faço uma encomenda de um item para loja, coloco o fone e termino o rap que estava escrevendo, crio uma publicidade pra loja e assim vivo mais um dia pela cultura Hip Hop”, revela Rangel. Confira o último trabalho do grupo Versu2, do qual Rangel e CDoze fazem parte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário