quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
"É campeão!" Grito dos torcedores do Bahia e da Bahia
Nesta quarta-feira, além dos jogos contra o Conquista, pelas categorias Sub-20 e de profissionais, o Bahia, jogando no Estádio da Fonte Nova, promoverá a reedição da final do Campeonato Brasileiro de 1988, faturado pelo Esporte Clube Bahia diante o Internacional, após vencer em Salvador por 2 x 1 e empatar em 0 x 0, no Estádio do Beira-Rio, em Porto Alegre e sagra-se bicampeão baiano, titulo que, até então, nenhum outro clube do estado foi capaz de igualar, muito menos chegar perto. A partida fará parte das homenagens aos 25 anos da batalha pela segunda estrela tricolor, obtida exatamente em um 19 de fevereiro, no ano de 89.
Dia 20 de fevereiro de 1989. O torcedor Tricolor, em êxtase, comemorava o bicampeonato brasileiro, a segunda estrela na camisa do clube, conquistada um dia antes, em Porto Alegre, no empate por 0 a 0 com o Internacional. E o jornalista Paulo Leandro publicava, na Tribuna da Bahia, a reportagem que você vai ler (ou reler) agora.
A Barra foi o ponto de concentração dos torcedores até as primeiras horas do dia de hoje.
A certeza de que o Bahia seria campeão fez com que a multidão de torcedores começassem a colorir a cidade de azul, vermelho e branco, bem antes do apito final do árbitro Dulcídio Wanderley Boschilla. Já aos 30 minutos do segundo tempo e aos gritos de “é campeão”, os primeiros tricolores começaram a se preparar para a grande festa que tomou conta de Salvador até altas horas da madrugada.
Quando Dulcídio encerrou o jogo, então, foi a loucura total. No principal ponto de encontro da galera, no Farol da Barra, teve de tudo, desde o topless descontraído da torcedora feliz até a liberação infinita do imaginário de outro torcedor, que arrancou um aparelho de uma sorveteria, muito parecido com uma taça de campeão, e saiu desfilando no ombro de companheiros exaltados.
A reunião popular encheu de criatividade a praça, que como já disse o poeta, “é do povo”. E ontem, foi do povão tricolor que entoou cantos baseados em letras conhecidas, ligeiramente aperfeiçoadas para a festa, como “Ele é Bobô, é tricolor”, baseada na música “Elejibô” e “Tá com medo Taffarel”, em lugar de “Tabaréu”, curtindo com o fracasso do goleiro do Internacional.
- Eu to sonhando, eu to sonhando, ou o Bahia é campeão mesmo? – perguntava, com sinceridade, um torcedor.
As dezenas de bandeiras tricolores balançando ao vento, e as batucadas, entretanto, não tiveram uma companhia fundamental para uma conquista à baiana: faltou o trio elétrico, a todo momento exigido pela galera. A raiva do bairrismo dos comentaristas da Rede Globo, ficou nítida na repetição insistente do refrão: “um, dois, três, quatro, cinco, mil, eu quero que a Globo vá pra...”
Um justo desabafo para quem teve de ouvir comentários tendenciosos de Raul Plassman e Galvão Bueno durante os jogos semifinais e finais. Para uma torcida acostumada às conquistas estaduais, mas que não chegava ao título nacional há 30 anos, a comemoração foi merecida. E como se já pedisse outros títulos, como a conquista da Taça Libertadors e do Mundial, os torcedores gritavam a plenos pulmões: “mais um, mais um título de glória...”
Nadinho, torcedor silencioso
O goleiro campeão de 1959, Nadinho, hoje o cidadão Leonardo Cardoso, advogado trabalhista, não saiu de seu estilo caladão em nenhum momento dos 90 minutos da partida decisiva entre internacional e Bahia. Ao final do jogo, um sorriso escancarado simbolizou a conquista, comemorada com um forte braço no filho caçula Leo.
- Meu jeito é esse desde quando era goleiro. Nunca fui de falar muito. Prefiro torcer calado – disse Nadinho, rodeado por parentes e amigos na ampla casa onde mora, na travessa Xangô, em Itapuã.
Desde cedo a casa de Nadinho se encheu par o que seria a grande festa do campeão do Brasil. Regado a uísque, uma bem “sarada” batida de cambuí e dezenas de cervejas, o encontro tricolor até demoveu alguns rubro-negros ranhetas, que insistam em “azarar”o fabuloso esquadrão de aço.
- Não vai ganhar de jeito nenhum –diagnosticou um dos presentes, o amigo de Nadinho, Ari, que desistiu de torcer pelo Internacional, logo no primeiro minuto ao sentir a premonição de que a tarde seria mesmo tricolorida.
Nem a imagem ruim do televisor, provocada por um defeito na antena, diminuiu o ímpeto da torcida organizada de Nadinho, ainda um ídolo tricolor passados 30 anos da conquista da primeira Taça Brasil. Todos fizeram uma corrente positiva, aumentando a energia do time baiano a 3.090 quilômetros de distancia, em pleno Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.
- Sou Vitória, mas o Bahia tá tão bem, que não tem nada a ver deixar de dar uma força ao nosso representante – resumiu, com elevado estado de espírito o filho caçula de Nadinho, Leo, sempre abraçado à namorada.
Enquanto Nadinho curtiu em família o segundo título nacional pelo Bahia, outro ídolo de 1959, o ponta-direita Marito preferiu se esconder em um sítio em Lauro de Freitas. Longe da imprensa, Marito trancou-se num quarto e viu o jogo como gosta: sozinho, controlando o nervosismo com muita fé na conquista do título.
Biriba, festa de um novo título
O pescador Armindo Avelino Santana, o Biriba, do time campeão de 1959, se defendeu com a única arma de que dispunha contra o nervosismo que sempre o ataca nos jogos do Bahia: a cerveja gelada. Biriba começou a entornar vários copos de cerveja logo depois do almoço e só parou depois de ver seu Bahia campeão do Brasil, com direito a volta olímpica no Yvos Bar, onde assistiu ao jogo, vizinho a sua casa, perto do final de linha de Itapuã, até a lagoa do Abaeté, carregando uma grande folha de palmeira. Biriba estava emocionadíssimo com o título de campeão nacional do Bahia.
- Campeão, não. Bi, bi, bi, bi de Biriba – repetiu o ponta-esquerda de 1959, muito doido de goró.
Rodeado de amigos, Biriba até que teve condições de ver o primeiro tempo do jogo com a reserva de sobriedade que restou. No intervalo, entretanto, já não entendia direito o que se passava, com tantos gritos de “dá-lhe Bahia” e “é tricolor” no seu ouvido. Sem se ligar nas jogadas, Biriba reagiu com puro instinto às imagens da televisão. Quando aparecia o centroavante Nilson, Biriba dava banana: “aqui pra você”. No close dos jogadores do Bahia, o ex-ponta tentava articular um sinal de positivo, mas nem sempre conseguia o objetivo, entortando a mão sem nada comunicar.
Biriba até lembrou a sua ausência da Seleção Brasileira que conquistou o bicampeonato mundial no Chile em 1962, treinada pelo experiente Aimoré Moreira, e fez uma comparação com o momento atual, exigindo a presença de pelo menos três jogadores campeões do Brasil na seleção nacional que disputará a Copa América e as eliminatórias da Copa do Mundo de 1990, na Itália.
A partir dos 30 minutos do segundo tempo, sóbrios e bêbados presentes no Yvos Bar foram se aproximando da pequena televisão colocada estrategicamente no fundo do estabelecimento. Dulcídio Wanderley Boschilla encerrou o jogo e Biriba foi à glória, carregado e venerado pelos torcedores. Ali estava um dos primeiros campeões do Brasil, nos braços do povo, com uma só ideia na cabeça.
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