terça-feira, 2 de setembro de 2014

Tuchinha da Mangueira, ex-traficante e funcionário do Afroreggae, é assassinado

Tuchinha, com o crachá do Afroreggae


O ex-traficante Francisco Testas Monteiro, o Tuchinha, , de 50 anos, foi assassinado, no início da tarde desta terça-feira, na Mangueira, Zona Norte do Rio. De acordo com o coordenador da ONG Afroreggae José Junior, o homicídio ocorreu na Rua da Prata, dentro da comunidade. “Acabei de ser informado que o Francisco Testas Monteiro - Tuchinha foi assassinado na Rua da Prata na Mangueira. Estamos muito mal!”, escreveu José Júnior, em sua conta no Twitter. O corpo permanece no local. Policiais da UPP da Mangueira e agentes da Divisão de Homicídios (DH) e peritos estão na favela.

Um segundo homem, que chegou com Tuchinha à favela em uma caminhonete Land Rover, pertencente a José Júnior, também foi baleado a 200 metros do local da primeira execução. Guilherme Augusto Souza Nascimento havia se separado de Tuchinha e ido para casa, situada na Rua Jupará, também na Mangueira. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, ele já chegou morto ao Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. No local onde Guilherme foi atingido, a polícia localizou pelo menos 20 cápsulas de munição 9 milímetros. Ele foi alvejado por pelo menos 13 tiros.

- O Guilherme não tinha nada a ver com o Tuchinha. Tinha feito uma entrevista de trabalho hoje (terça-feira). Ia começar amanhã como ajudante de caminhão - afirmou a mulher da vítima, Andréa Nascimento.

Pelo menos cinco disparos de calibre 40 e 45 atingiram Tuchinha. Ele teria sido atingido por tiros dados dois homens em uma moto, por volta de 13h30. Tuchinha saía da caminhonete quando foi atacado pelos suspeitos, em frente a um lava a jato, em uma das entradas da Mangueira.

Corpo de Tuchinha é removido da comunidade Foto: Thiago Lontra / Extra



Parentes do ex-traficante já estão no local do crime. José Júnior, do Afroreggae, chegou à comunidade por volta das 15h30m. Uma sobrinha do ex-traficante começou a passar mal e precisou ser amparada enquanto gritava: "Tio, volta aí. Eu preciso de você. Você não pode ir embora assim". Um homem que se identificou apenas como sobrinho do ex-traficante, comentou brevemente o ocorrido.

— Meu tio estava lavando o carro dele quando tudo aconteceu — disse.

Parentes choram a morte de Tuchinha Foto: Thiago Lontra / Extra



O ex-traficante estaria lavando uma Land Rover Discovery, da cor verde, quando foi abordado.

Coordenador do Afroreggae acusa Marcinho VP

Segundo José Junior, a ordem para matar Tuchinha partiu do traficante Marcinho VP, preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Junior disse que esteve com Tuchinha na segunda-feira em uma reunião e teria alertado sobre a ameaça de morte. José ainda teria recomendado que o ex-traficante deixasse a Mangueira, já que sofria ameaças desde 2012. O coordenador do Afroreggae afirmou também que o assassinato tem ligação com as denúncias feitas por ele contra o pastor Marcos Pereira.

José Júnior acusou Marcinho VP do crime Foto: Thiago Lontra / Extra



- Há duas semanas falei para o juiz que o Tuchinha e o Gaúcho (outro traficante) foram ameaçados de morte. Sei quem executou o crime e já informei para a polícia - contou José Junior.

PMs da UPP isolam o local onde está o corpo de Tuchinha, na Mangueira Foto: Thiago Lonta/Extra



Tuchinha entrou para o crime em 1983. Foi preso pela primeira vez, em 89, cumprindo 17 anos de pena. Em livramento condicional, foi preso pela segunda vez, em 2006, em Aracaju. Na época, disse que atuava como uma espécie de conselheiro, mas garantiu que já estava fora do tráfico. Com status de chefe do tráfico da Mangueira, ganhou liberdade, em agosto de 2011, depois de passar, no total, 21 anos preso. Ele saiu do Complexo de Gericinó, em Bangu, para trabalhar de carteira assinada no AfroReggae, onde recebia R$ 2.500 para dar palestras aos jovens, buscando retirá-los do caminho do tráfico.

Tuchinha, com Sérgio Cabral, no Complexo de Bangu Foto: Urbano Erbiste / Agência O Globo



O ex-traficante, beneficiado pelo regime semiaberto, conseguiu o benefício do trabalho extramuros, ou seja, durante o dia batendo ponto no AfroReggae e, à noite, dormindo no presídio. No dia seguinte da sua saída do presídio, Tuchinha disse: "Nada paga o preço de saber que a minha família está em segurança. Poder andar tranquilo, sem ter a preocupação de que vai vir a polícia para me prender. Minha cabeça está tranquila."

O ex-traficante ficou 21 anos preso Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo



Tuchinha também chegou a se aventurar no mundo do samba. Em 2008, ele assinou o samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira sobre os 100 anos do frevo. Na ocasião, Tuchinha era conhecido pelo nome de Francisco do Pagode. A composição é cantada até hoje na quadra da escola de samba. Na época, houve polêmica por causa de uma passagem secreta que levaria um camarote da agremiação até o interior da comunidade. De acordo com a polícia, Tuchinha marcava encontros na quadra, em dias de ensaio, para vender drogas a artistas, além de ter total acesso ao espaço de fuga.

Fora da Mangueira, o Tuchinha também compôs o samba da Porto da Pedra de 2006, no enredo "Bendita és Tu entre as Mulheres do Brasil".

De acordo com a assessoria de imprensa da Verde e rosa, a agenda da escola, por enquanto, está mantida. Só haverá mudança em caso de algum problema de segurança pública na região. A agremiação também não está planejando nenhuma homenagem para Tuchinha.

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